Brasil e Coreia: União e cooperação como ferramentas de uma globalização do bem

Embaixador do país asiático foi recebido no Campus Porto Alegre na última sexta

Crédito: Janaína Costa

No final da tarde da última sexta-feira, dia 25 de agosto, o Campus Unisinos Porto Alegre recebeu a visita do embaixador da Coreia do Sul no Brasil, Jeong Gwan Lee. O representante do governo de Seul ministrou a Aula Inaugural para alunos do curso de Relações Internacionais na Capital.

A visita foi parte da agenda do Festival da República da Coreia, que ocorreu no campus da universidade na Capital entre os dias 24, quinta, e 25, sexta-feira. O evento contou com outras palestras sobre a cultura e oportunidades na Coreia do Sul, além de exposição de fotos, degustação de comidas típicas e a exibição de filmes coreanos. Na noite de sexta, também ocorreu uma apresentação da Chicago Korean Dance Company, pela primeira vez no Brasil.

O embaixador Lee chegou à Avenida Nilo Peçanha ainda por volta das 17h, quando se encontrou oficialmente com o reitor da Unisinos, Pe. Marcelo Fernandes de Aquino. Conversaram especialmente sobre os anseios das juventudes brasileira e coreana. Jeong Gwan Lee concorda que os países têm muito a aprender um com o outro sobre como lidar com a competição interna. “Nós temos uma competição alta demais e isso desinteressa os jovens. O Brasil, pelo que vejo, tem pouca competição. Precisamos nos nivelar, aqui e lá na Coreia do Sul, para tornar a vida mais sadia”, afirmou o embaixador.

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Representando a universidade, o Padre Marcelo afirmou que é muito importante a presença coreana em um evento no novo Campus Porto Alegre. “É uma honra ter a presença do embaixador Lee. Além disso, é simbólico para demonstrar a intenção da Unisinos de atrair cada vez mais estudantes e parcerias internacionais como as que a nossa instituição realiza com a República da Coreia”, apontou.

Coreia do Norte e o alerta para o mundo

A aula inaugural para os universitários do curso de Relações Internacionais ocorreu a partir das 18h. O tema, “A Situação da Península Coreana”, é cada vez mais importante para a geopolítica global frente a ameaça nuclear do regime de Kim Jon Un. O atual mandatário, que assumiu o país no final de 2011, é a terceira geração da família Kim a comandar o país, de forma autocrática, desde 1948, gerando tensões com a os vizinhos do Sul desde então.

Em sua apresentação, o reitor da Unisinos explicou que as parcerias da universidade com empresas, universidades e com o governo da Coreia do Sul objetiva uma evolução da instituição que traga também retorno aos coreanos, no que ele chamou de “globalização do bem”. “No caso das Relações Internacionais, queremos formar líderes globais que encaminhem a humanidade nos caminhos da paz.”

Crédito: Janaína Costa

Estiveram também presente no evento o conselheiro político da Embaixada da República da Coreia no Brasil, Sang Woo Lim; a secretária de Cultura da Embaixada, Won Young Kim; o pró-reitor acadêmico da Unisinos, Pe. Pedro Gilberto Gomes; o diretor do Campus Unisinos Porto Alegre, Prof. Dr. Cristiano Richter; os coordenadores do curso de Relações Internacionais da Unisinos, Prof. Ms. Nadia Barbacovi Menezes e Alvaro Augusto Stumpf Paes Leme; além de integrantes da equipe da Embaixada da República da Coreia, outros professores da Unisinos,  alunos do curso de Relações Internacionais e convidados de outras instituições presentes.

O embaixador Jeon Gwan Lee fez sua fala em inglês, apesar de afirmar, em um sonoro português brasileiro, ter a intenção de dominar cada vez mais o nosso idioma.

Depois disso, e já de saída, argumentou que as questões que envolvem a Península Coreana hoje precisam ser cada vez mais discutidas. Além das já sabidas capacidades norte-coreanas de desenvolvimento de armas nucleares, o estabelecimento de mísseis balísticos de alcance intercontinental acende um alerta. “Não é apenas sobre a Coreia do Sul que estamos falando, mas sim do mundo.”

Segundo o embaixador coreano, há três grandes problemas sobre a Coreia do Norte. A segurança das fronteiras, que já sofreram com três incidentes só no século XXI; as violações dos Direitos Humanos no país, especialmente contra os opositores do regime; e as falhas nas tentativas de unificação dos dois países em uma única Coreia, como já foram por mil anos antes do século XX.

O papel do mundo por uma Coreia unificada

Depois disso, Jeong Gwan Lee falou a respeito da história da península. No começo do século XX, foi cimentado o domínio do Japão sobre os coreanos. Isso duraria até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando norte-americanos e soviéticos libertaram a região. Porém, com o começo da Guerra Fria, os dois países distintos simbolizavam, assim como as Alemanhas Ocidental e Oriental, o cabo de guerra entre EUA e União Soviética estabelecido nesse período. A questão ficou mais delimitada após a Guerra da Coreia (1950-53).

O embaixador salientou que, após a queda da União Soviética no começo dos anos 1990, Coreia do Sul e EUA acreditavam que os norte-coreanos cederiam para a reunificação da península. “Nós estávamos errados. Isso não aconteceu por conta do extremo controle de informações que lá ocorre, além da influência da cultura confucionista”, admitiu.

O representante coreano seguiu para realizar uma digressão sobre a geopolítica da região onde se situam as duas Coreias. Rodeada por potências – China, Japão, Rússia e os EUA via presença militar – a atuação delas não apenas contribuiu para a formação de dois países, como é fundamental para a pretendida reunificação.

Crédito: Janaína Costa

Os Estados Unidos, atualmente, são o maior aliado da Coreia do Sul, além de serem inimigos declarados dos norte-coreanos. Teme-se hoje uma ação direta militar dos americanos contra a Coreia do Norte, especialmente após estes demonstrarem ter mísseis balísticos intercontinentais. Os chineses, apesar de serem parceiros militares com o Norte, não apreciam seus testes nucleares e são os líderes em acordos comerciais com os sul-coreanos. Os japoneses possuem posição ambígua no conflito: apesar de um fim no programa nuclear poder ser um alívio militar, a rivalidade com os coreanos como um todo prevalece. Além disso, o Japão nunca se desculpou por alguns dos crimes de guerra cometidos por seus soldados no começo do século XX. A Rússia, por fim, tem menos influência que os outros três citados, porém tem potente voz ativa na comunidade internacional. Uma Coreia unificada também significaria uma nova rota para o envio de gás natural para o Sudeste asiático, além de uma oportunidade para o desenvolvimento da porção mais oriental da Rússia.

Segundo Jeong Gwan Lee, o caminho para a unificação é longo, mas é no que acredita o governo sul-coreano. Com um desarmamento nuclear dos norte-coreanos, conversas poderiam voltar a acontecer, com o surgimento de confiança entre as partes. “Assim, em comunidade e em cooperação econômica, um dia a reunificação poderá ser possível. Poderemos ser apenas uma única Coreia de novo”, acredita.

Durante as perguntas das plateia, o embaixador reconheceu ainda que o governo está sempre preparado para o caso de a situação norte-coreana mudar repentinamente. Outra preocupação é com a inserção dos hoje 75 milhões de cidadãos do Norte de uma posição de isolamento para um mundo globalizado. “Para arcar com esse custo, precisamos de apoio integral dos sul-coreanos. Especialmente se nosso objetivo for para acirrar a competição comercial com o Japão e com a China”, explicou.

Para que tudo isso aconteça, a ajuda de parceiros como o Brasil, que tem relações com a Coreia do Sul há 58 anos, é necessária. “Toda a comunidade internacional precisa continuar a fazer pressão para trazer a Coreia do Norte para a mesa de negociações”, enfatizou o embaixador da República da Coreia no Brasil, Jeong Gwan Lee.

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