Rafinha Bastos nas comemorações de 10 anos da Comdig

Para o comunicador, a internet já é o planeta

Quando a internet ainda era um bebê no Brasil e carregava o demérito por linhas telefônicas ocupadas e inconfundíveis ruídos de conexão, um jornalista gaúcho, a mais de nove mil quilômetros de sua terra natal, começou a fazer graça na rede de computadores. Ele que, até então, jogava basquete nos Estados Unidos e atendia pelo nome de Rafael Hocsman viria a se tornar Rafinha Bastos – hoje, um dos 30 comediantes mais assistidos do mundo no Youtube.

A época era 1999. Naquele ano, por conta de uma lesão no rosto, o atleta ficou dias afastado do esporte para se recuperar. Foi quando descobriu as possibilidades da ainda incipiente estrutura de redes: criou a Página do Rafinha a fim de se comunicar com amigos brasileiros. O produto, antes imaginado como vínculo afetivo, acabou levando o título de primeira página de vídeos humorísticos do Brasil, tendo sido posteriormente incorporado ao portal Terra.

“Eu acho que a gente vive na internet uma identificação com o momento do país. As pessoas querem que as coisas mudem e as redes sociais estão aí para resumir os indivíduos.”

Rafinha Bastos, comunicador

“A internet, para mim, foi uma solução”, diz o porto alegrense. “Eu não recorri a ela por ser ‘o lugar do futuro’, mas porque queria fazer comédia e não encontrava abertura nos outros espaços.” Depois de ver suas propostas recusadas por veículos tradicionais, Rafinha apostou na web. Apesar da limitação técnica, o humorista descobriu seu chão. “Acabei percebendo a internet como meu canal de televisão mundial”, conta. “Por meio dela, eu me conectei com gente muito além do alcance da antena de TV.”

Naquela época, a captação profissional de conteúdo dependia de equipamentos dos quais Rafinha não dispunha, mas isso não chegou a ser um problema, já que a página foi, por bom tempo, a única opção do gênero na web. “As pessoas baixavam os vídeos – o que, convenhamos, demorava bastante.” De acordo com o comediante, havia poucos produtores de materiais semelhantes, e isso fez com que o público acompanhasse de perto seu trabalho.

Território de criatividade

Hoje, Rafinha considera a rede de computadores um mundo aberto. “Internet não é mais uma ‘coisa’. Internet já é o planeta”, acredita. Segundo o comunicador, tudo está conectado e as possibilidades só aumentam. “A facilidade técnica deixa a criatividade mais simples de ser posta em prática e faz com que as pessoas produzam em maior quantidade, qualidade e velocidade.”

“Estamos preocupados com quantas pessoas atingimos, mas será que não é melhor fidelizar aquelas que se identificam com o conteúdo?”

Rafinha Bastos, comunicador

Para chegar aonde chegou, a web passou por aquilo que o jornalista chama de “organização da criatividade”. “Quando comecei, lá atrás, a internet funcionava como um cabo que me ligava ao público e convidava as pessoas a conferirem projetos físicos, além do computador. Agora, dá para lucrar sem sair desse universo online, você pode gravar um vídeo em HD com o celular e postar como bem entender”, comenta.

Ao mesmo tempo em que favorece a disseminação de conteúdo, entretanto, a praticidade inspira situações adversas. “Quem é negativo se expressa muito mais do que quem tem amor ou gosta de certa coisa. É sempre assim e isso vem do próprio ser humano”, pondera Rafinha. Ele, que se diz um provocador, analisa as mídias sociais como espaços de discussão direcionados pelo público: “Eu acho que a gente vive na internet uma identificação com o momento do país. As pessoas querem que as coisas mudem e as redes sociais estão aí para resumir os indivíduos”.

Fronteira com a televisão

Dois veículos com linguagens diferentes – internet e televisão – estão se aproximando, pelo menos é o que acredita o comediante: “O limite vai desaparecendo. Parece que há, ainda, uma lacuna, um distanciamento, mas quanto mais o público interagir através da internet, maior vai ser essa fusão entre ambos os canais”.

Segundo Rafinha, embora as narrativas tenham suas especificidades, o contraste real reside na técnica. “Na TV, eu preciso fidelizar as pessoas, preciso fazer com que elas se acostumem comigo e com os quadros. Não dá para ser absolutamente criativo, porque não há tempo hábil para tantas ideias mirabolantes. É uma questão de hábito”, explica. “Na web, a criatividade vence a qualquer custo.”

Detalhe que o jornalista faz questão de destacar é o público, tanto em um, quanto em outro veículo de comunicação: “Estamos preocupados com quantas pessoas atingimos, mas será que não é melhor fidelizar aquelas que se identificam com o conteúdo?”. De acordo com ele, as produções boas nem sempre são as mais bem sucedidas, portanto, qualidade e audiência não se correspondem necessariamente.

Futuros comunicadores

Apesar de dar início às comemorações de 10 anos do curso de Comunicação Digital (Comdig) da Unisinos, o talk show com Rafinha Bastos não se limitou aos comdiggers. Aberto ao público, o evento aconteceu em abril, lotou o Anfiteatro Padre Werner e surpreendeu a plateia.

O graduando de Jornalismo Matheus Beck foi um deles. “Não esperava que o Rafinha aceitasse o convite de vir até aqui, ainda mais agora, no momento de ascensão em que retorna à TV”, disse, na ocasião. “Me admira o tom irônico, inteligente e provocativo do trabalho dele. Sem dúvida, trazê-lo foi a melhor escolha da Comdig.”

O coordenador da Comunicação Digital Daniel Bittencourt concorda: “O Rafinha tem uma trajetória de ousadia. Ele pensou novos formatos quando a interface ainda era muito restrita, entendeu o contexto e soube agir como o profissional que a Comdig pretende formar hoje”.

A Comunicação Digital completa seu décimo ano integrando a Escola da Indústria Criativa da Unisinos. Primeiro bacharelado da área de atuação no país, não foi fundado com a intenção de ser uma versão digital dos cursos de Jornalismo ou Publicidade. Ao contrário, é direcionado para o modo de fazer comunicação dos nativos digitais, jovens imersos em um cenário de compartilhamento de conteúdos via redes sociais na web.

As comemorações de aniversário da Comdig se estendem até o final do ano de 2014, com painéis abertos ao público, a partir do projeto Comdig Share. Além disso, a programação prevê também aulas ministradas pela Adobe Brasil e lançamentos de wearables, microdocumentários e uma revista para aplicativos móveis.

Acompanhe ao longo do ano a programação na página do curso no Facebook.

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