Mudanças climáticas foi tema de abertura do Conexão Pesquisa

Em uma noite de reflexão multidisciplinar, o Conexão Pesquisa abriu os trabalhos falando sobre os desafios da espécie humana diante das mudanças climáticas

Crédito: Ramon Belmonte

Na noite da última segunda-feira, 18 de outubro, a Unisinos realizou a palestra Ciência, Tecnologia e Inovação: Pessoa & Planeta. O evento abriu o Conexão Pesquisa, que vai até o dia 22 e conta com apresentações da Semana Acadêmica da Escola Politécnica (SAEP), da Mostra de Extensão (MEX) e da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). O tema da palestra foi Mudanças Climáticas.

Em suas falas introdutórias, os representantes da reitoria e gerências da Unisinos apontaram para a relevância do tema na academia. A diretora da Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação, Dorotea Kersch, salientou como o conhecimento sobre o assunto é relevante para todos os níveis de conhecimento. O reitor da Universidade, Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, congratulou a professora Dorotea pela caminhada na função, destacando que o papel da educação é sair das nossas raízes e pensar além delas. O vice-reitor, Pe. Pedro Gilberto Gomes, explicou que a sociedade, em especial o poder público, deveriam dar mais atenção à pesquisa, já que esta é responsável por indicar soluções a longo prazo para problemas do tamanho do aquecimento global. “Apesar de todas as fragilidades, seguimos lutando”, afirmou.

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Para a mesa de debates e apresentações foram chamados:

  • Jefferson Cardia Simões, professor de Glaciologia e Geologia Polar na UFRGS, que apresentou o tema;
  • Luiz Rohden, representando a Escola de Humanidades da Universidade;
  • Janaína Ruffoni, representando a Escola de Gestão e Negócios da Unisinos;
  • Gabriel de Jesus Tedesco Wedy, representando a Escola de Direito da Universidade;
  • Rafael Grohmann, representando a Escola da Indústria Criativa da Unisinos;
  • Juliana Nichterwitz Scherer, representando a Escola de Saúde da Universidade;
  • Juliano Morales de Oliveira, representando a Escola Politécnica da Unisinos, que mediou a conversa.

As faces do problema

Na fala inicial, o professor Jefferson Cardia Simões fez uma historiografia do diagnóstico sobre o fenômeno do aquecimento global e as mudanças climáticas dele resultantes. Algo possível a partir das universidades ao redor do mundo e suas pesquisas a respeito de temas como paleoclimatologia. “Variações ambientais sempre existiram na Terra. O importante é a velocidade e o impacto que essas mudanças causam na vida e nas sociedades humanas”, explicou. Para ele, vive-se mais do que uma crise climática: é uma crise civilizatória.

Crédito: Ramon Belmonte

O professor Juliano apontou, em uma pergunta, como a pandemia da Covid-19 funciona como evento teste das mudanças climáticas futuras, colocando à prova as capacidades de organização e adaptação dos seres humanos para mitigar seus efeitos. Para Simões, a pandemia mostra o potencial do conhecimento e da ciência que, aplicadas com mais ou menos força em diferentes países, levaram a respostas melhores. Em outros lugares, a fuga foi a resposta oficial.

Crédito: Ramon Belmonte

Em sua apresentação, o professor Luiz Rohden falou sobre o que se chama de “ética da sustentabilidade”. Na era em que vivemos, o homem manipula o mundo, e não apenas o outro. Não se limita a isso, explorando e dissecando tudo que lhe é externo – inclusive o planeta. O sujeito olha para tudo como objetos a serem utilizados. “O jogo antropológico de que precisamos para a sustentabilidade não suporta eu contra o objeto, mas sim eu e o objeto, como parte de nós. Um eu que se põe no lugar do outro, e que considera passado, presente e futuro, não apenas o presente”, revelou.

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A professora Janaína Ruffoni, em sua fala, afirmou que, de um ponto de partida multidisciplinar, é necessário abordar três aspectos a respeito das mudanças climáticas. O fato de que ciência, tecnologia e inovação são essenciais neste momento da história, mas que não são neutras; de que o progresso dessas ciências não é homogêneo, existindo uma geopolítica dessas escolhas sociais; e a decisão por diferentes tecnologias parte de um coletivo de atores sociais. Portanto, ninguém decide sozinho quais tecnologias são empregadas, e nem todo país tem a mesma capacidade de decidir nesse sentido. “Universidade e Estado precisam, mais do que nunca, serem mais fortes e comunicar melhor para a sociedade objetivos de longo prazo”, assegurou.

Crédito: Ramon Belmonte

Ao tomar a palavra, o professor Gabriel Wedy apresentou números inequívocos sobre a presença de dióxido de carbono e sobre o aumento da temperatura e do nível dos oceanos na Terra. Esses são fatos. Para Wedy, que também é juiz federal, o Poder Judiciário tem a capacidade de compelir governos a fazerem a sua parte para um mundo mais sustentável, bem como punir as empresas que trabalham a favor do aquecimento global. “Só podemos garantir a dignidade da pessoa humana se pudermos proteger os mais vulneráveis dos extremos climáticos”, explicou.

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O professor Rafael Grohmann abriu sua fala aliando a sustentabilidade à tecnodiversidade: não depender somente das grandes corporações tecnológicas, e combater os preconceitos introjetados nos algoritmos – afinal, essas inovações não são neutras. “As plataformas são desenvolvidas no Norte global e seus bancos de dados são alimentados por trabalhadores no Sul global, em um esquema desigual”, apontou. Para Grohmann, a principal forma de escapar disso e trazer justiça no design é o cooperativismo de plataforma, unindo o cooperativismo local à economia plataformizada, dando condições a trabalhadores locais de estarem nos espaços econômicos sem precisarem se sujeitar a plataformas que não cumprem com boas práticas de trabalho.

Crédito: Ramon Belmonte

Juliana Scherer falou a respeito do impacto das mudanças climáticas na saúde humana. Uma diferença de 2º Celsius parece pouco em um dia, mas a longo prazo esse aumento traz sérias consequências físicas. “A partir de 2030, estima-se que cerca de 250 mil pessoas morrerão todo ano devido ao agravamento de doenças crônicas ou quadros agudos derivados das mudanças climáticas”, afirmou. Além disso, a fome pode acometer 189 milhões de pessoas nos próximos anos devido ao quadro climático.

Crédito: Ramon Belmonte

Por fim, antes de abrir o debate, o professor Juliano Morales fez sua apresentação. Enquanto biólogo, tratou de jogar luz sobre a biodiversidade – conceito esse bastante difundido – e o que ele tem a ver com a atual crise civilizatória. “Ao transformar o ambiente, nós mudamos lugares que tinham muita biodiversidade e fazemos com que tenham pouca biodiversidade. Precisamos recuperar os espaços naturais para seguir usufruindo do que a natureza nos dá, enquanto ainda a temos”, explicou.

Durante o debate seguinte, Jefferson apontou que a crise civilizatória existe porque as camadas sociais com mais recursos mistificam o consumo. “É o consumo pelo consumo, apenas. E fazer isso, de modo infinito, não é possível em um mundo finito, com recursos limitados. É uma crise principalmente de valores.”

Os professores também concordaram que a criação de valores é importante para que não se caia no tecnologicismo – ou seja, que não se acredite que a tecnologia sozinha pode resolver todos os problemas. “Todos nós, cientistas, precisamos estar cientes de que há sempre algo perigoso no que fazemos e em como isso pode ser utilizado”, afirmou o professor Rafael Grohmann. “Hoje estamos em uma sociedade que reverencia uma tecnologia, mas que não tem o conhecimento de como ela é gerada. Não sabe nem a diferença entre informação, conhecimento e opinião. É trágico”, lamentou o professor Jefferson. “Uma melhor educação vai nos permitir sermos mais críticos e jogar esse jogo diferente do que foi falado antes”, salientou Janaína Ruffoni.

Reunindo ensino médio, graduação e pós-graduação, o objetivo do Conexão é promover o compartilhamento de conhecimento dos diversos níveis de ensino e fomentar a pesquisa acadêmica. A semana de eventos conta com o apoio de FAPERGS, CNPq e Sicredi.

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