Fórum Brasil-Coreia explora soluções e problemas

Pesquisadores trazem soluções e atentam para os gargalos de implementação

Foto: Rodrigo W. Blum

Nesta quarta, 24 de agosto, a Unisinos realizou a primeira metade do VI Fórum Brasil-Coreia, que vai até o final desta quinta, 25. O evento traz pesquisadores de universidades dos dois países para discutirem, em 2016, o tema “Tecnologias Avançadas Para o Amanhã”.

Nas palestras, que iniciaram à tarde, após a abertura oficial do evento pela manhã, o principal foco foram as aplicações e desafios dos conceitos relacionados à chamada Internet das Coisas, que busca a conexão no nível entre máquinas e equipamentos com o uso de tecnologia embarcada. Desde a primeira edição do evento, que ocorre nesta semana no Auditório da Unitec, cerca de 50 palestrantes e pesquisadores, brasileiros e internacionais, vêm à Unisinos compartilhar seus conhecimentos com um público de mais de 3.000 inscritos.

Foto: Marcelo Grisa

Energia do ambiente e joelhos melhores

Na apresentação inicial, os professores da Unisinos Willyan Hasenkamp e o organizador do evento, Eduardo Rhod, falaram sobre os MEMS – Micro Electro Mechanical Systems, ou Sistemas Mecânicos Micro-Eletrônicos, em português. Ambos apresentaram suas pesquisas em desenvolvimento no Instituto Tecnológico em Semicondutores, o itt Chip, onde está instalada a primeira fábrica de semicondutores do Brasil.

Willyan falou a respeito de seus projetos para a melhoria de próteses de joelho. Segundo ele, perde-se muito potencial com a falta de dados a respeito da pressão dos nervos do joelho –  hoje só é possível ter precisão através das mãos de um médico com experiência na colocação deste equipamento – e muitos cortes desnecessários na verificação da vida útil após a instalação inicial. “Com ferramentas inteligentes teríamos como fazer os ajustes para dar melhor balanço para os pacientes, treinar de forma mais ágil os profissionais que as operam e, com uma prótese inteligente, aumentar a sua vida útil”, argumentou.

Eduardo Rhod, por sua vez, apontou os primeiros estágios dos dispositivos de coleta de energia. Miniaturizados, os agregadores da energia diferencial de temperatura poderia ser aplicados em dispositivos vestíveis, como luvas, já que seu tamanho manteria o material base com a mesma flexibilidade. “A nossa equipe também está pensando em formas de fazer com que diferentes contes de energia coletada por este e outros sensores possam ser utilizadas em conjunto.”, afirmou.

Novos modelos de nuvens e da própria internet

Depois deles, foi a vez do professor Rodrigo Righi, também da Unisinos. Ele desenvolve sua pesquisa com base no conceito de elasticidade em cloud computing para trabalhar com o processamento de dados na internet das coisas. Seu método, denominado ELIOT, automatiza a configuração da nuvem para suprir a demanda de usuários e aplicações dessa natureza, aumentando a linha de middleware emulado via máquinas virtuais de acordo com delimitadores do uso previsto. “Nossos resultados até agora provam sua eficiência por manter o uso do recurso alocado em torno de 80 a 90%”, asseverou.

Discute-se também a distância existente, hoje, entre a infraestrutura de rede e a demanda de processamento de dados e permissões em dispositivos. O professor Antonio Alberti, do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações) desenvolve, desde 2008, uma solução que visa revolucionar a forma como a comunicação entre objetos na Internet das Coisas se dá com o projeto NovaGenesis. A arquitetura repensa os modelos adotados na Internet até hoje, tais como os protocolos IPv6 e os dispositivos de escrita e gravação, a partir de grafos de informação para cada objeto, que têm seus serviços expostos pelas aplicações que desejam utilizá-los. A partir daí, ocorre um processo de negociação e contrato automatizado entre as partes; assim, os objetos publicam seus dados para as apps que os solicitam.

O primeiro protótipo do NovaGenesis analisou temperaturas de vários micro dispositivos em 2011, e novos testes práticos serão feitos. “Pensamos também que este é um modelo que, a exemplo de sistemas como as lojas de aplicativos para celulares, oferecem um ambiente mais aberto, que vai permitir que o hardware possa ser utilizado por servidores de formas melhores e inesperadas daqui a alguns anos”, avaliou.

Soluções e desafios

À noite, um painel a respeito das soluções e desafios nas cidades com a Internet das Coisas reuniu o professor Rodrigo Righi (desta vez como mediador) e os professores Dhananjay Singh (HANKUK University), da Coreia do Sul, e Fabiano Hessel, coordenador do Smart City Innovation Center, da PUCRS.

Primeiro, Singh apontou quatro grandes sistemas que podem melhorar a vida nas cidades a partir da comunicação automatizada entre dispositivos e micro sistemas: de integrar os serviços de transporte público até reunir a vizinhança para analisar dados sobre o abuso de crianças e mulheres, contribuindo na redução da violência e discriminação contra esses públicos.

Fazem parte, também, das pesquisas do professor indiano, estas já em execução nas ruas coreanas, sistemas abertos de direção inteligente; ao usar scanners e câmeras acopladas aos carros (servem inclusive as de celulares), é possível praticamente eliminar o tempo dispendido por motoristas para comunicar aos serviços de segurança e às seguradoras sobre acidentes e danos aos carros, por exemplo. É possível também acessar serviços como uma avaliação do uso da potência e outros recursos do veículo, além da necessidade ou não de reparos. “O próximo passo é integrar imagens em tempo real em videoconferência para as seguradoras e polícia”, apontou o pesquisador. “Assim, elimina-se a chance de fraude no seguro e o tempo de análise, pois os dados necessários para todas as partes já existirão e estarão armazenados.”

Foto: Rodrigo W. Blum

Entretanto, Fabiano Hessel fez uma chamada à nossa realidade. “Todos estes conceitos e aplicações são ótimos, mas precisamos encarar o fato de que não há vazão de dados na estrutura de rede existente no Brasil hoje”, admitiu. Apontando exemplos como a enchente do começo de 2016 em Porto Alegre (na qual o sistema estadual do Rio Jacuí não conseguiu conectar-se com o do Guaíba, administrado pela Prefeitura da Capital, que também falhou), o professor apontou a necessidade de recorrer à iniciativa privada para expandir o poder de processamento. Isso será uma obrigação principalmente em cidades pequenas, nas quais as operadoras de telecomunicações brasileiras não instalam novos equipamentos por não haver consumidores suficientes que compensem o investimento. “As teles não instalam mais base porque não sabem como cobrar por esse uso emergente da Internet das Coisas”, concluiu.

Outros entraves foram questionados por Hessel. Dos protocolos fechados que obrigam Prefeituras a se manterem com empresas ou sofrem com a interrupção de importantes serviços até a urgência de criação de tecnologia física no país, passando por problemas como a segurança e privacidade dos dados (afinal, os dados pertencem a quem?) foram levantados pelo painelista. “Não importa tanto ter uma aplicação forte, mas sim propor soluções amplas que envolvam plataformas abertas, ampliação da estrutura local, preocupação com a segurança e a unificação de modelos em um ambiente que já sofre com o excesso de modelos concorrentes”, explicou.

Nesta quinta, 25 de novembro, novas apresentações devem apontar para soluções ainda mais específicas. Antes da cerimônia de encerramento, devem se apresentar pesquisadores da Itália e da Coreia a partir das 16h.

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