Fotografia, história, mercado e renovação na aula de Ricardo Chaves

Em comemoração aos 50 anos de Zero Hora, o jornal oferece palestras com seus profissionais. Na noite de ontem, Ricardo Chaves levou sua experiência aos alunos da Unisinos Porto Alegre.

Crédito: Rodrigo W. Blum

Uma aula de jornalismo investigativo, de fotojornalismo, de história e de amor à profissão. Ricardo Chaves, o Kadão, passou todas essas lições aos alunos da graduação em Jornalismo de Porto Alegre na noite de 20/08. A turma bateu um papo com o experiente fotojornalista, que já fez parte da equipe de grandes veículos como Zero Hora, Estadão, Veja e outras revistas do Grupo Abril. Conhecido por seu carisma, Kadão contou diversas histórias da sua carreira, pontuando todas com seu senso de humor.

“Na verdade, eu queria ser mecânico. Sempre adorei corridas e carros antigos. Então, para poder comprar meu primeiro carro, entrei na Zero Hora para aprender a fotografar e ganhar um dinheiro”, conta ele. “Eu entrei para a fotografia para fotografar corridas. No fim das contas, a mecânica acabou virando um hobby e eu descobri no fotojornalismo minha verdadeira paixão”. Kadão diz que a escolha foi acertada, pois, em suas palavras “a vida é feita de experiências, e foi essa profissão que me deu a oportunidade de ver e viver os grandes momentos da história do país”.

Para ele, o fotógrafo está mais para um historiador do que para um jornalista. “É o material fotográfico que registra a história. Depois de muito tempo, ainda poderemos contar com o registro que os fotógrafos fizeram de seu tempo, para podermos entender o que acontece na atualidade”, explica. Para ele, os fotógrafos têm grande compromisso com a história. “O jornais eventualmente publicam informações equivocadas, mas isso pode ser corrigido na edição do dia seguinte. É embaraçoso, mas acontece. Porém, se o fotógrafo perde a foto, ele perde o momento e isso não tem volta”, ensina.

Crédito: Rodrigo W. Blum

E, para quem sempre fotografou com filmes, a volatilidade do digital é o ponto fraco da tecnologia. “Quando fotografávamos com filmes, tudo era arquivado, mesmo as fotos borradas e fora de foco. Mas no digital, somos mais egoístas: se não serve para a pauta, vai fora. Às vezes apagamos o que virá a ser importante no futuro”, esclarece.

No entanto, Kadão acredita que a tecnologia traz muitos benefícios. “Antigamente, quando precisávamos mandar um rolo de filme de um lugar para outro, recorríamos até mesmo a estranhos nos aeroportos, na esperança de que os repórteres encontrassem a pessoa quando ela chegasse, para então levar para a redação e revelar. Hoje é só tirar o cartão de memória da câmera, plugar no computador e enviar”, relata .

Kadão diz que a mudança do equipamento fotográfico analógico para o digital não foi a mudança que mais impactou as redações. “O que revolucionou o jornalismo de verdade foi a internet. E acredito que ainda não temos um completo entendimento dessa ferramenta. Estamos vivendo um momento de embriaguez com as inúmeras possibilidades que ela nos oferece”, pondera. Segundo o fotojornalista, hoje há tantas opções e recursos, que repórteres e jornalistas acabam fazendo uso deles sem moderação. “Sou a favor das novas tecnologias, desde que elas sejam empregadas em prol de boas ideias, mas nem sempre é o que acontece”, comenta.

”A melhor coisa do mundo é sair da redação para correr atrás da notícia”

Ricardo Chaves, editor e colunista do Almanaque Gaúcho

Crédito: Rodrigo W. Blum

Todas essas transformações refletem na maneira de praticar jornalismo, de acordo com Kadão. Para ele, essas mudanças tornam necessária uma constante renovação das redações, para que as demandas dos leitores possam ser atendidas. “Quando uma redação permanece a mesma por muito tempo, a qualidade do material tende a estagnar. É preciso que novas cabeças entrem para provocar evoluções, como o que está acontecendo hoje na Zero Hora”, explica.

Depois de contar aventuras como, por exemplo, sua colaboração nas investigações da Operação Condor, Kadão disse que a sua carreira pode não ter sido construída por grandes fotos, mas, com certeza, foi feita de grandes reportagens. “A melhor coisa do mundo é sair da redação para correr atrás da notícia. E é nisso que os repórteres que vivem essa era de tecnologias devem pensar ao produzir conteúdo”, aconselha. “Minha carreira me trouxe diversas realizações. Tudo que eu sempre sonhei em fazer, o jornalismo me proporcionou”, conclui.

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