De que forma as políticas de branqueamento interferem nas relações Étnico-Raciais

Este foi o tema de uma oficina que reuniu integrantes da Agexcom, do Neabi e público da Unisinos

Crédito: Josiane Skieresinski Alves

A oficina é parte das ações formativas desenvolvidas pela Agência Experimental de Comunicação para seus estagiários, funcionários e professores. Mas o tema, voltado a discutir as questões de raça e seus impactos na universidade, acabaram provocando interesse da comunidade acadêmica de maneira geral. Na live, ocorrida na semana passada, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), criado na Unisinos em 2009, trouxe como tema a “Educação das Relações Étnico-Raciais e as políticas de branqueamento nas práticas cotidianas”. A questão foi abordada pelos quatro integrantes do Neabi.

Adevanir Aparecida Pinheiro, coordenadora geral do Neabi e professora nos cursos de Ciências Sociais e Pedagogia e do PPG, relata que todos vivemos um processo histórico de branqueamento. E o que seria isso? Segundo o pesquisador José Ivo Follmann, o branqueamento se dá como uma tentativa estruturada de embranquecer o nosso país, quiçá o mundo. Esse branqueamento não figura como uma ação literal — embora alguns autores levantem questões como a miscigenação nesse sentido — mas sobre tornar distante o conhecimento para pessoas negras e apagando a sua história. Talvez, o exemplo mais fácil de se compreender seja o escritor Machado de Assis, que sofre até hoje com o branqueamento, este sim literal, da sua imagem, quando sempre foi um homem negro.

Esse é um processo histórico de longa data. Com uma base científica eurocentrista, não existiam referências sobre o continente africano de forma protagonista na época. “Por isso, nossas matrizes de políticas de branqueamento se fortaleceram, também com as matrizes eurocêntricas”, completou. A coordenadora, que também coordena o Programa GDIREC – Projeto Inter-Religioso da Universidade, ainda relatou mais exemplos de como as políticas de embranquecimento estão presentes no cotidiano e como elas moldam as identidades do país. “Tem negro que não se vê negro, por causa das práticas escolares embranquecidas”, explicou.

Outro ponto ressaltado no encontro foi da história da região do Vale do Rio dos Sinos. Segundo Sueli Angelita da Silva, assistente social do Neabi e mestranda do PPG em Ciências Sociais da Unisinos, a história de São Leopoldo só começa a ser escrita a partir da chegada dos imigrantes. Com isso, acontece um apagamento dos grupos escravizados que residiam aqui naquele momento. Na pesquisa de Sueli, ela visa entender e trabalhar o território da Feitoria (bairro de São Leopoldo) e a juventude negra. Para isso, ela se aprofundou no contexto histórico da cidade. “Para vocês terem uma noção, uma das primeiras empresas da cidade de São Leopoldo foi a Cordoaria e quem ensinou esses germânicos a trabalhar com a corda foram os africanos que aqui estavam, porque eles (os descendentes europeus) não tinham esse conhecimento. Então, a gente vai analisando o contexto do apagamento e do embranquecimento da história”, relatou a mestranda. Sueli ainda conta que muita coisa não é contada. “Quem chegou até aqui oriundo da Alemanha, da Itália, que veio para essa região, veio com a ideia do processo de branqueamento do Brasil. Porque o Brasil era um país muito negro, muito indígena, então precisava ‘melhorar a raça’”, explicou.

Felipe Pereira dos Santos, estudante do ensino médio, também falou sobre sua experiência agora que consegue perceber algumas situações, graças aos conhecimentos que desenvolve com o Neabi. Sobrinho da pesquisadora Sueli, foi apresentado ao grupo de pesquisas e por ele foi indicado ao projeto Jovem Aprendiz da Unisinos. “Eu me meti um pouco na pesquisa quando a minha tia pediu umas opiniões”, contou o adolescente. “Eu me sinto muito sozinho em relação à escola, ao trabalho, à sociedade. Na minha escola, eu sou o único jovem negro que vai se formar no ensino médio esse ano.”

Pela percepção do estudante, a diferença de tratamento ainda é visível, principalmente entre os jovens com os quais participa do programa profissionalizante, uma situação que chateia o adolescente e é um dos fatores que influenciam a evasão escolar, antes e durante o ensino superior.

William Martins, estudante de Jornalismo e secretário do Neabi, finalizou a conversa sob o ponto de vista da comunicação. “Quando não há a representatividade do negro nas mídias, há o estereótipo. A mídia hegemônica ajuda a reafirmar o racismo. Ainda é necessário ter uma mídia negra ativa e forte”, comentou.

A breve conversa proporcionada pela live é mais uma das propostas da Agexcom em fomentar a discussão entre os integrantes da Agência, especialmente os estudantes, e tem o propósito também de dar visibilidade para pesquisas importantes na Unisinos. A Agex costumava proporcionar, presencialmente, eventos como este para os alunos da Escola da Indústria Criativa. Agora, começa a realizá-los em ambiente remoto. Para não perder nenhum evento e ficar por dentro de tudo que ocorre na Indústria Criativa, siga a página no Instagram do portal Mescla.

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