Conheça Verônica Valente, aluna de PP e paratleta medalhista de tiro com arco 

A história da caloura que se encontrou nessa modalidade esportiva e vem batendo recordes, enquanto se prepara para as Paralimpíadas de 2028, em Los Angeles

Crédito: Luísa Bell | Agexcom

Também conhecida como Vê Valente, a paratleta cadeirante de 19 anos passou por uma cirurgia intrauterina de correção da mielomeningocele, com apenas 25 semanas de gestação. Natural de São Paulo, ela se mudou para a capital gaúcha ainda criança, aos três meses de idade. Vê é caloura de Publicidade e Propaganda, e começou o curso no início deste ano. “Sempre gostei muito de arte, desenho e do processo de criação como um todo”, explica. 

Verônica comenta gostar bastante de fotografia e, por isso, diz se imaginar trabalhando em algo relacionado a isso. “Se possível, eu quero fazer algo que englobe o esporte também, mas, se não, só a fotografia já é uma área que me interessa bastante.” 

O tiro com arco

Vê conta que desde pequena teve gosto por práticas esportivas, passando por diversas modalidades ao longo do tempo. Praticou capoeira, vivenciou o ballet, experimentou outras modalidades de dança, até se encontrar de fato no tiro com arco. O interesse pelo esporte olímpico surgiu após assistir as Paralimpíadas do Rio (2016) e Tóquio (2021). Ela relata que chegou a acompanhar as competições na capital carioca presencialmente durante uma semana, por conta do seu primo Eduardo Villanova, que trabalhou em ambas as edições.

Crédito: Arquivo Pessoal

Inspirada por essa experiência e também pela princesa Merida, personagem do filme Valente, animação da Disney – que também é arqueira –, Verônica começou a praticar o tiro com arco em abril de 2022 ao entrar para o Arqueiro X, projeto financiado pelo Pró-Esporte RS, programa de incentivo ao esporte do governo estadual, que estimula a prática do tiro com arco para jovens de forma gratuita. Ele é organizado e executado pela Escola Arqueiria Gaúcha no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), em Porto Alegre.

Evolução e o Campeonato Brasileiro de 2023 

Em um ano, Verônica subiu de categoria, do Arco Recurvo (o arco escolar usado nas aulas) para o Arco Composto (usado nos Jogos Olímpicos). Ao ver o seu potencial, a equipe da Arqueiria Gaúcha chamou Vê para fazer parte do time de atletas. Em maio deste ano, ela participou da sua primeira competição profissional e já conquistou a sua primeira medalha, a de bronze, no XVII Campeonato Brasileiro Paralímpico. Ela marcou 601 pontos na qualificatória – de 720 possíveis.  

“Participar do Brasileiro foi uma oportunidade muito importante para o meu crescimento dentro da modalidade, não só porque consegui um resultado relevante, mas também por mostrar para os outros atletas que estão há 10, 20 anos atirando, que eu também estou nesse caminho. Encontrar atletas ali, que eu assistia competir nas Paralimpíadas, foi muito gratificante. Desenvolvi vários laços lá e adquiri muita experiência”, ressalta Verônica.

Crédito: Arquivo Pessoal

Vê conta que os recordes pessoais de pontuação, a medalha, a colocação, tudo é dedicado ao seu pai, Guarani Valente. Infelizmente, ele só pode estar presente no começo da trajetória dela no tiro com arco, pois faleceu em agosto do ano passado, época em que Verônica ainda fazia as aulas no Projeto Arqueiro X. “Acredito que, de alguma forma, ele segue comigo, e ainda vai me ver conquistando muitas outras colocações e medalhas incríveis ao longo da minha carreira como atleta paralímpica de tiro com arco, e vai se orgulhar muito disso.”

Técnica da modalidade há 10 anos e criadora da Arqueiria Gaúcha, Alexandra Cardoso falou que trabalhar com a Verônica é muito especial, por ela ser uma menina muito dedicada e querida. “Assim que a gente se conheceu, nos demos super bem. No projeto Arqueiro X, demonstrou muito talento e dedicação. Quando a gente tem essa reciprocidade do aluno, a coisa tende a fluir e melhorar cada vez mais”, elogia Alexandra. Segundo ela, não foi à toa que este ano Verônica subiu para a categoria Arco Composto. “Ela já voltou do Brasileiro com uma medalha de bronze. Toda essa dedicação, esse amor e carinho que ela tem pelo esporte, faz tudo acontecer muito mais fácil.”

Crédito: Luísa Bell | Agexcom

Próximos passos

Neste ano, a paratleta vem batendo recordes de pontuação nas modalidades Indoor e Outdoor dos campeonatos da Federação Gaúcha de Arco e Flecha (Fegaf), na categoria “Composto Feminino Sub-21 Paralímpico”. Verônica conta que seu objetivo principal sempre foi as Paralimpíadas de 2028, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Por isso, o foco agora é o Campeonato Brasileiro do ano que vem, pois ter um bom resultado nessa competição é de extrema importância para se classificar para a Seleção Paralímpica.

“Para se classificar para qualquer Paralimpíada, é preciso obter vários bons resultados em campeonatos brasileiros e, junto disso, é preciso ir bem no dia da Seletiva para Seleção Paralímpica”, explica. Segundo Vê, para entrar na Seleção, não adianta só conquistar o primeiro lugar. “Também é necessário atingir o índice que os paratletas fizeram no campeonato mundial anterior”, complementa a arqueira.  

Além do objetivo de entrar para a Seleção e representar o Brasil em diferentes campeonatos nacionais e mundiais, Verônica também tem outros desejos, como promover a diversidade e inclusão através da sua vivência, para mostrar que todos podem praticar esportes; e, claro, se tornar uma referência mundial na modalidade. A paratleta defende que o tiro com arco é um dos esportes mais inclusivos e que todos podem atirar. “Eu acho que independentemente da deficiência, vale a pena tentar o tiro com arco, porque com certeza, de alguma forma, ela vai conseguir atirar. Claro que cada deficiência demanda uma adaptação diferente, mas todos conseguem atirar”, observa.

Os desafios

Entre as maiores dificuldades como atleta, Vê aponta que as principais questões são conseguir um lugar com espaço para treinar, e ter um maior incentivo para a modalidade. “A minha categoria oficialmente é a de 50 metros, e pouquíssimos lugares disponibilizam essa distância. Em segundo lugar, acho que seria importante a gente ter uma valorização, de repente um maior auxílio, um maior incentivo por parte dos órgãos públicos”.

Crédito: Luísa Bell | Agexcom

Ela também comenta que vem buscando por parcerias e patrocínios, para que possa ter um apoio financeiro com os gastos, que envolve a ida a um campeonato, por exemplo. “Por enquanto, eu não tenho nenhum patrocínio. Eu só consegui um apoio da universidade, que já tá me ajudando bastante, mas patrocínio mesmo ainda não consegui”, revela Verônica.

É preciso ter um equilíbrio

Com uma rotina intensa de treinos – quatro dias por semana, com duração de duas horas cada –, além de sessões semanais de fisioterapia e preparação física, Verônica busca um equilíbrio entre os estudos e os treinos. “É bem difícil, mas quando fui fazer a rematrícula pra este semestre na Unisinos, já pensando no Campeonato Brasileiro do ano que vem, que vai ser em maio, formei um quadro de horários que desse bastante tempo pra eu treinar. Hoje, eu consigo ter um equilíbrio, já que tô fazendo três disciplinas noturnas e treinando três vezes na semana, e aos sábados também”, explica. 

Crédito: Luísa Bell | Agexcom

Em um dia de treino, a primeira coisa que a paratleta faz é montar o seu equipamento. Depois, inicia o aquecimento, em que geralmente dá alguns disparos em um alvo mais perto do que o normal. Já pronta, começa o treino na distância inicial, que é de 18m. “Eu tenho um contador que, conforme vou atirando as flechas, marco cada série, e eu não saio da linha enquanto eu não fizer 90 disparos”, comenta Verônica. Ela ainda destaca que já ficou das 14h até às 19h atirando. “Já aconteceu de eu fazer 220 tiros e só ir para o intervalo quando cheguei nos 90.”

Repórter arqueira por um dia

Durante uma tarde chuvosa de setembro, a repórter que vos escreve foi acompanhar o treino da paratleta Verônica no Cete, e acabou tendo a oportunidade de fazer uma aula experimental junto da turma do professor Alisson Cunha de Souza, que, assim como eu, é canhoto. Ele brincou que éramos os ‘tortos’ do grupo, por não ser usual encontrar um canhoto no tiro com arco. 

A experiência durou cerca de uma hora, em que comecei conhecendo as regras básicas. Depois, passei por alongamentos de relaxamento e, em seguida, fiz dois exercícios com uma borracha elástica para imitar os movimentos com o arco. Logo em seguida, parti para a ação, e comecei a atirar com o arco e as flechas de fato. Ocorreu o que eu temia: não fui muito boa na pontaria, pois o mais perto que cheguei de acertar o alvo foi o da própria circunferência do mesmo. E quando acertei, era o alvo das atletas que estavam treinando ao nosso lado. Também acabei acertando algumas flechas na parede. Quando isso aconteceu, Alisson me explicou que era preciso avaliar as flechas antes de prosseguir, por questão de segurança, pois se as pontas ficassem danificadas, era perigoso usá-las novamente.

Crédito: Luísa Bell | Agexcom

Foi muito legal e divertido ter sido uma arqueira por um dia, pois apesar de um possuir uma pequena dificuldade de mobilidade e pouca força na minha mão direita, ainda sim, consegui ter uma experiência positiva praticando o esporte. 

Fique por dentro  

Ficou curioso e gostaria de assistir aos treinos ou aos campeonatos que ocorrem no Cete? De acordo com a técnica Alexandra Cardoso, todos estão convidados para ver e torcer. Para ficar por dentro das novidades e datas das competições que ocorrem no local, é só seguir os canais no Instagram da Arqueiria Gaúcha e da Fedaração Gaúcha de Arco e Flecha. Já para os interessados em fazer uma aula experimental, devem entrar em contato com a Alexandra via WhatsApp e realizar um agendamento.

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