Autonomia e conhecimento para negociar dívidas

Projeto de Apoio às Famílias em Situação de Superendividamento auxiliou o público atendido em audiências virtuais

Crédito: Roberto Caloni

“Tivemos um trabalho mais voltado para redimensionar nossas atividades e pensar alternativas de atuação”, explica a coordenadora do projeto de Apoio às Famílias em Situação de Superendividamento, Maria Alice Rodrigues. Durante o ano, o trabalho realizado pode ser exemplificado em dois momentos. A primeira etapa foi de reestruturação das atividades, repensar diferentes maneiras para chegar, de forma virtual, até o público atendido. A segunda etapa foi marcada por atendimentos prestados à comunidade por meio de videochamadas e participação em audiências online.

Enquanto aguardavam definição do Poder Judiciário a respeito das audiências, a equipe atuou em encontros, de forma remota, no planejamento dos atendimentos. “Foram 33 reuniões, nas quais avaliamos e discutimos conceitos utilizados no projeto, materiais para publicar em diferentes redes sociais, bem como estruturamos as formas de divulgação e atuação. Foi um período de muita reflexão e planejamento de ações para serem colocadas em prática”, relembra a coordenadora. O projeto atende pessoas em situação de vulnerabilidade social que, em períodos de crise econômica e sanitária, são as mais atingidas, além de encontrarem dificuldades no acesso aos meios digitais.

Com a definição de que as audiências poderiam seguir, em ambiente online, e a aceitação das instituições credoras em participar, uma nova etapa de trabalho foi iniciada. Maria Alice conta que o acolhimento e a entrevista social passaram a ser por meio de uma plataforma. “Apoiar as pessoas em situação de superendividamento é sempre muito importante. As pessoas que enfrentam essas situações chegam ao projeto fragilizadas, pois se sentem culpadas e, na maioria das vezes, escondem até mesmo da própria família. Nessa perspectiva, ter um espaço para falar do superendividamento sem ser culpabilizado pode ser libertador. Procuramos tratar do tema a partir da reflexão de que vivemos em uma sociedade que estimula o consumo”, avalia.

O ano de 2020 atingiu índice de 66,5% de famílias endividadas no Brasil, o maior desde 2010. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de dezembro de 2020, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O levantamento ainda apontou que 66,3% dos consumidores estavam endividados. Os números reforçam a importância do trabalho prestado pelo projeto. Para Maria Alice, o agravamento da crise econômica afetou muitas pessoas com a perda do emprego ou fonte de renda informal. “A falta de renda, aliada à ausência de políticas públicas articuladas e eficazes de enfrentamento aos efeitos da pandemia, tem levado muitas famílias a situações desesperadoras, pois não conseguem atender às suas necessidades mais básicas”, enfatiza.

Durante o ano, foram realizados 73 atendimentos, beneficiando seis pessoas. O projeto de Apoio às Famílias em Situação de Superendividamento atua de forma interdisciplinar, contribuindo para que as pessoas possam compreender a questão, considerando outras dimensões que as afetam, além do aspecto unicamente financeiro. “O projeto estimula as pessoas a refletirem sobre o superendividamento como um fenômeno da sociedade de consumo, para que tenham autonomia e possam superar e enfrentar as questões que decorrem dessa situação”, afirma a coordenadora. O objetivo é auxiliar o público atendido na compreensão da situação para que estejam aptos a avaliarem as reais possibilidades de negociarem as dívidas com credores, sem comprometerem a sua subsistência.

Esta matéria foi escrita em meados de 2021, referente ao Balanço Social 2020.

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