TEDxUnisinos: entre histórias e culturas

Evento lotou o Teatro Unisinos no dia 30/8 com falas sobre culturas

Crédito: Dani Villar / Assessoria Fotográfica

Um dia para ouvir e pensar sobre como a diversidade e a cultura impactam na tecnologia, no empreendedorismo, na comunicação, na gastronomia e em tantas outras áreas do conhecimento e da vida. Mais de 400 pessoas lotaram o Teatro Unisinos, em Porto Alegre, para ouvir histórias que inspiram e mostram, na prática, como é possível transformar-se, transformando o mundo ao redor.

O TEDxUnisinos deste ano teve como tema gerador culturas, e trouxe 17 speakers e duas atrações artísticas bastante diversas em gênero, raça, etnia e estrato social. Um palco multicultural de muitas narrativas que não serão esquecidas por quem as assistiu. No comando do evento, a publicitária e escritora, Lau Patrón e os professores, Laura Dalla Zen e Paulo Fochi.

Confira aqui como foram as talks desta edição:

Tito Gusmão

O primeiro speaker do TEDxUnisinos foi Tito Gusmão, investidor com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro no Brasil e nos Estados Unidos. Em 2015, ele fundou a Warren, uma plataforma que tem como proposta democratizar o acesso aos bons investimentos para o cidadão comum. Tito revelou como surgiu a carreira de investidor – ainda quando era uma criança, em busca de chocolate. “Somos um mundo da novela e a novela cria uma cultura. Então, a gente pensa que cuidar do dinheiro vai nos fazer o vilão da história, porque ele é o bem sucedido e as coisas não são bem assim”, exemplificou o empresário sobre a importância de saber investir bem o dinheiro.

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Lívia de Paula

Uma empreendedora que une meditação, gastronomia e sustentabilidade para construir uma forma de viver e de pensar seu negócio. Na talk, Lívia contou como criou uma empresa na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que produz cremes de castanhas artesanalmente feitos em moinhos de pedra, e o impacto positivo de uma empresa que vive em equilíbrio com a natureza. Lembrando que a sustentabilidade é hoje uma matriz de valor para boa parte da população, especialmente para os jovens, ela chamou a atenção sobre a interdependência dos elementos do planeta: “Nada existe isoladamente. Não existe ‘proteger a natureza’, nós somos a natureza, nós somos a Amazônia e o cerrado queimando”.

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Douglas Veit

O terceiro speaker do dia é doutor em Engenharia de Produção e Sistemas. Ele convidou a plateia para pensar sobre de que forma a tecnologia pode ser encarada como uma aliada, e não como o fim do homem. Sim, é verdade que a máquina pode tirar empregos, disse ele, e obriga os trabalhadores a se reinventarem todos os dias, mas também é certo que o desenvolvimento da engenharia humana de criação de tecidos, por exemplo, vai cada vez mais longe, e pode modelar órgãos do corpo, como os pulmões e o coração. Futuro, ou presente próximo? Douglas, que integra o Grupo de Pesquisa e Modelagem para a Aprendizagem da Unisinos, pediu que as pessoas não tenham medo das mudanças tecnológicas advindas com a chamada “indústria 4.0”: “A nossa função é desbravar esse mundo”, concluiu.

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Onília Araújo

Quanto você é privilegiado no sistema em que vivemos hoje? Onília Araújo abriu sua participação no TEDxUnisinos com uma série de perguntas que envolviam a experiência de ter sido vítima de preconceito de cor, classe e gênero. Mulher, negra e lésbica, Onília disse que, de todas as minorias, a mais difícil de ser compreendida por ela foi a da cor: “Eu nasci para não dar certo, e estou aqui”. Onília é empresária contábil, empreendedora social, netweaver, formada em Contabilidade e ativista em diversidade sobre raça, gênero e LGBT. Ela se reconhece como uma pessoa privilegiada. Hoje, tem escritório de contabilidade em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, e traz consigo a consciência de que o que realmente importa é o que as pessoas fazem com esses privilégios e as atitudes que têm em relação a eles. Onília defende um empreendedorismo que leve em conta toda a forma de diversidade: “As empresas só tem a crescer. Está provado que a diversidade faz bem não só ao mundo social, mas também à economia, pois estimula a criatividade”. No final da talk, questionou: “E o que você vai fazer com os seus privilégios a partir de hoje?

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Guilherme Junqueira

Guilherme Junqueira é um empreendedor e foi indicado pela Revista Forbes como um dos 30 jovens abaixo dos 30 anos mais promissores do mundo. O quinto speaker começou com um questionamento: como você quer morrer? Ou questionado de outra forma: como você quer ser lembrado? Essa pergunta marcou a vida dele, que é fundador da Gama Academy. Guilherme tem uma escola que seleciona e capacita talentos nas áreas de programação, design, marketing e vendas para trabalhar no mercado digital. A talk do empresário foi sobre como a educação e a evolução devem sempre andar juntas. Guilherme falou sobre suas metas de transformar a vida de milhares de pessoas:“Um futuro utópico para mim, mas uma verdade é uma realidade para alguém”.

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Nilson Queiroz

Você sabia que existem 5 mil crianças aptas para adoção no Brasil? E que 90% das pessoas querem filhos de até 6 anos? O speaker Nilson Queiroz contou que essas informações foram uma motivação importante para ele criar o projeto Pais de Coração, que ajuda a inspirar, acelerar e qualificar a adoção de crianças e adolescentes com mais de três anos. O analista de sistemas se tornou pai após adotar dois meninos, atualmente com quatro e sete anos. Na talk, ele falou sobre a relação com os filhos e como o amor por eles e que vem deles o inspiram diariamente. “Com a adoção, eu vi o invisível, vi o essencial, vi que não basta ser pai biológico, tem que adotar”, completou.

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Renata dos Anjos

“Ninguém nos ensina a descobrir os nossos filhos e quem eles são”. Assim começou a fala de Renata dos Anjos, mãe e militante dos direitos LGBTs. Ela questiona o sistema educacional e como as crianças LGBTs são deixadas de lado e ignoradas em suas questões. “Aprendi que o único problema de ser mãe de LGBT é o problema que alguns tem com isso”. Renata é geógrafa, consultora ambiental e atua como voluntária do grupo Mães pela Diversidade. O grupo é uma associação independente formada por mães que realizam ações para combater o preconceito e apoiar outras mães de filhas e filhos LGBT.

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Daniel Gonçalves

O jornalista e documentarista Daniel Gonçalves abriu sua fala questionando: “Com quantas pessoas com deficiência vocês já ficaram?” Segundo ele, 24% da população brasileira possui algum tipo deficiência. Daniel, que faz parte dessa porcentagem, afirma: “Tadinho é o caramba! Mas, na vida real, uso a versão com palavrão”. Além disso, os olhares de pena, o lugar de super-herói e de exemplo de superação também o incomodam. Daniel relatou que todos têm dificuldades e que todos passam por situações ruins. E que o melhor jeito de quebrar esses estereótipos é representando pessoas com deficiências nas histórias. Ele, como documentarista, traz isso à tona e ainda reforça: “Vai ter filme feito por pessoas com deficiência sim!”. Daniel é formado em Jornalismo e pós-graduado em Cinema Documentário. Nasceu com uma deficiência de origem desconhecida, que afeta sua coordenação motora. Sócio de uma produtora audiovisual e diretor de filmes e documentários, Daniel falou de estereótipos, lugares comuns e preconceito por meio de histórias vividas por ele e por pessoas próximas.

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Carolina Hessel

Contar histórias é a mesma coisa que conversar? E contar histórias em libras, como faz? Esse foi o questionamento que Carolina Hessel trouxe para o TEDxUnisinos 2019. Carol contou que, para uma história ser atrativa, ela necessita de alguns recursos linguísticos, e, na língua de sinais, essas necessidades não são diferentes: ela precisa de expressões e detalhes. Carolina exemplificou essas necessidades com duas versões de Chapeuzinho Vermelho, e mostrou a diferença entre os elementos de expressividade e as expressões. Desde criança, Carolina adorava livros infantis, desenhos e produções culturais. Mas, por ser surda, acabou tendo dificuldades para consumir essas produções. Quando cresceu, decidiu dar aulas para crianças surdas e a experiência fez com que ela criasse o projeto Mãos Aventureiras, com o objetivo de fomentar a cultura e a educação para crianças surdas.

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Márcio Chagas

“Este negro está autorizado a entrar aqui?” A pergunta pegou de surpresa a plateia, e foi seguida por uma pausa do speaker. Foi assim, narrando o que ouviu da tia da sua primeira namorada, que o ex-árbitro gaúcho Márcio Chagas iniciou a sua talk no TEDxUnisinos. Márcio, que acumulou vários títulos de melhor árbitro do Campeonato Gaúcho de Futebol durante os seus 15 anos de carreira, reconhecido nos campos e na mídia, disse que nunca se está preparado para levar o tapa do preconceito racial. Atual comentarista de arbitragem do Grupo RBS, a projeção na mídia não o impediu de sofrer diversos ataques racistas durante os jogos em que trabalhou. Quem estava no Teatro Unisinos pode ouvir ele contar sobre as inúmeras vezes em que se sentiu sozinho durante as violências sofridas. Segundo ele, poucos se levantaram para defendê-lo ao longo da vida. Hoje, Márcio sente que precisa lutar mais do que nunca contra o preconceito, e o faz também pela sua família. “Meus filhos estão na construção do mundo deles e eu não quero deixá-los sozinhos”, concluiu.

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Atração musical

No fim do bloco da manhã, o público do TEDxUnisinos acompanhou a apresentação artística de Daya Moraes.

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Sérgio Xavier

Sérgio passou pelos três grandes motivos da prática da corrida: perder peso, fazer amigos e desafiar a morte. O speaker perdeu 13 quilos, conheceu pessoas novas durante as provas de corrida, e quando precisava de um motivo para começar a se desafiar, se deparou com a história de Katherine Switzer, a primeira mulher a correr a Maratona de Boston. Alcançar esse feito se tornou a obsessão do jornalista. Por oito anos, correu em maratonas menores até conseguir alcançar o índice de qualificação necessário para poder correr na tão almejada corrida norte-americana. Em 2017, realizou o sonho, justamente no ano em que Katherine Switzer correu para comemorar os 50 anos de sua realização. Nesse âmbito de significados, correr, para Sérgio, se tornou o desafio de superar o envelhecimento do cérebro e do corpo. O atleta disse que o treinamento físico desenvolveu seu espírito para saber se organizar e aproveitar o tempo, porque não é apenas correr, mas driblar os limites todos os dias, tentar ir adiante, até chegar ao final dos 42 quilômetros de uma maratona. “Nesse mundo de fake news, eu tenho que dizer a verdade: correr é um saco. Mas vale a pena”, brincou o jornalista.

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Letícia Chemale

Letícia Chemale é formada em Administração e mestre em Gestão e Negócios. Criadora do @projetoexploramundo no Instagram, propôs, em sua talk, uma reflexão sobre o tempo, e contou como sua viagem pelo mundo, ao lado do marido e dos filhos, mudou sua perspectiva de vida pelo olhar dos filhos. Encantou a plateia com a ingenuidade das histórias de Pedro e Gabe, e disse ter aprendido que a melhor forma de falar a língua do outro era com o olhar. “Existem muitos jeitos de viajar o mundo. Mas, para ser de uma forma transformadora, é preciso do tempo”, conta. Nessa viagem, em que conheceu inúmeras culturas, descobriu que todos precisamos viajar como uma criança, como seus filhos Gabi e Pedro.

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Katiúscia Ribeiro

A filósofa Katiúscia Ribeiro pediu licença à ancestralidade antes de falar, porque, na filosofia antiga africana, falar de filosofia é falar de espiritualidade. A fala em forma de poesia rimou as palavras e o sentimento do auditório. Ela remontou a história do homem e da mulher negra a partir de uma gota de sangue, que atravessa geração após geração, desde o ancestral comum, alcançando o coração metafísico que guarda as emoções do presente. O curso de Filosofia, com o qual ela não se reconhecia, foi o princípio para uma filosofia ancestral que desenvolveu o reconhecimento de si mesma a partir do olhar voltado ao passado. “Eu ouvi, com esse coração que pulsa, e pulsa, e pulsa: é importante estar aqui.” Katiúscia é doutoranda em Filosofia Africana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordena o Laboratório de Africologia e Estudos Ameríndios Geru Maã da universidade carioca.

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Jefferson Simões

Jefferson Simões, pioneiro no estudo da glaciologia no Brasil, falou sobre a cultura de negação e desinformação que menospreza a sociedade científica. Essas campanhas de desinformação, segundo ele, são orquestradas pelos movimentos mais tradicionais dos Estados Unidos, com o intuito de abafar os efeitos do clima ao longo dos anos. A maior prova desses efeitos é o aumento de 1ºc na temperatura média da Terra ao longo de 160 anos. “A questão da mudança do clima vai muito além de evidências das ciências naturais. Nós temos que pensar o que queremos de nossa breve experiência neste belo e único planeta”, propõe Jefferson.

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Mariléia Sell

Além de professora e pesquisadora, é na escrita que Mariléia “organiza os absurdos”, conforme ela mesma disse quando apresentou a prática e repensou a posição dos indivíduos no mundo. O papel social é um dos “absurdos” que a speaker abordou durante os 15 minutos da sua talk, em que falou da construção dos elementos básicos de uma narrativa ao vivo. Numa crescente de frases e situações que são impostas ao gênero feminino, principalmente, Mariléia atingiu o clímax quando falou sobre a educação das novas gerações. Como exemplo, citou sua própria filha, que figura em muitas das crônicas da professora. “Um dia, Valentina me disse que viu duas moças se beijando. Com a respiração suspensa, perguntei o que ela tinha achado. Ela respondeu que ‘achava muito frio para as duas estarem na rua’.”

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Julie Dorrico

Julie Dorrico, doutoranda em Teoria da Literatura, entrou no palco para contar a história dos indígenas, aquela não contada pelos livros de história. Descendente do povo Macuxi, população indígena que habita a região de fronteira entre as Guianas e o Brasil, ela defendeu que não existem índios no país, mas sim povos. Há mais de 44 escritores indígenas no Brasil vindos de 22 povos diferentes, e foi ouvindo a fala de um deles que Julie se descobriu Macuxi, a sua origem. “Todos nós viemos de um povo, e, por isso, a causa indígena não é só minha, é de todos”, enfatizou.

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Leandro Demori

A talk surpresa do dia ficou por conta da presença do jornalista Leandro Demori, editor do site jornalístico The Intercept Brasil. Ele falou sobre as origens da sua vontade de investigar e as mudanças que a internet sofreu nos últimos anos. “Era a oportunidade que eu tinha de mudar a vida das pessoas”, contou, enquanto contextualizava sua trajetória pelos blogs na época em que se acreditava que a internet seria a “ágora moderna”, ou a “biblioteca de Alexandria”. Demori falou sobre a conscientização da imprensa frente à falta de credibilidade atribuída à falta de transparência e consciência dos jornalistas. “Daqui a 30 anos, vamos olhar os veículos que estamos consumindo e perceber que são os veículos que estamos fazendo agora.”

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Atração musical

O TEDxUnisinos encerrou as atividades com apresentação artística da banda 50 Tons de Pretas.

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