Nos anos 1990, Medellín, na Colômbia, ficou conhecida como a cidade mais violenta do mundo. O domínio do narcotráfico, a ausência do Estado e a falta de perspectivas sociais mergulharam a população em medo e desesperança. As taxas de homicídio eram alarmantes e a vida em comunidade parecia condenada a uma rotina de violência e exclusão.
Três décadas depois, a mesma Medellín se transformou em referência internacional de Inovação Social. Hoje, é reconhecida não apenas pela arquitetura ou avanços tecnológicos, mas, sobretudo, por ter colocado as pessoas e os territórios vulneráveis no centro das políticas públicas.
A mudança só foi possível porque o poder público, a iniciativa privada, universidades e comunidades aprenderam a trabalhar juntos. Medellín nos ensina a reconhecer que a Inovação Social não é apenas criar novas tecnologias, mas construir soluções que devolvam dignidade e oportunidade para quem mais precisa.
O que Medellín ensina é que a cidade pode ser um laboratório vivo de transformação social, que gera impacto em todo o ecossistema da cidade. Intervenções urbanísticas levaram transporte público acessível até regiões periféricas, abriram espaços de cultura e lazer, revitalizaram áreas abandonadas e deram nova vida a comunidades inteiras.
A famosa Comuna 13, por exemplo, transformou-se em símbolo de resiliência: onde antes havia medo, surgiram escadarias rolantes que conectam moradores, murais de grafite que contam histórias de resistência e iniciativas culturais que criaram uma identidade comunitária.
Outros projetos também mostram a força da inovação social: o Cinturão Verde Metropolitano trouxe equilíbrio entre o crescimento urbano e a preservação ambiental, freando o avanço desordenado da cidade. Já a Ruta N e o Centro del Valle del Software conectaram ciência, tecnologia e comunidade, transformando Medellín em um polo de conhecimento e empreendedorismo social. Além disso, programas como o Jardín Buen Comienzo, voltado à primeira infância, provaram que cuidar das crianças é investir no futuro coletivo.
A Missão Medellín – Pacto Alegre de 1 a 7 de setembro de 2025, organizada pelo Consórcio da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (GRANPAL) – levou 12 pessoas de diferentes áreas de atuação, mas com um grande objetivo: aprender com a experiência colombiana e buscar inspiração para transformar os territórios periféricos das nossas cidades por meio da inovação social. Na ocasião, visitamos as unidades de vida articuladas (UVAs), espaços multifuncionais localizados em regiões periféricas, que oferecem cultura, esporte, lazer e convivência comunitária.
Uma das finalidades da minha disciplina de Tecnologia e Inovação Social – Escola de Gestão e Negócios da Unisinos – é a imersão aos projetos em Territórios Inovadores, que cria hubs de inovação em comunidades populares de Porto Alegre. O primeiro deles, no Morro da Cruz, já está em funcionamento, oferecendo internet gratuita e um espaço para iniciativas sociais e empreendedoras da própria comunidade. Trata-se de um passo concreto para aproximar tecnologia, educação e inclusão social, replicando em Porto Alegre o espírito transformador visto em Medellín.
A história de Medellín mostra que não existe futuro próspero sem inclusão. A Inovação Social é o caminho mais potente para reduzir desigualdades, fortalecer vínculos comunitários e reinventar cidades. Ela ensina que inovação não é apenas falar em startups ou novas tecnologias, mas criar soluções coletivas que nascem das necessidades reais das pessoas.
O desafio é grande, mas a lição de Medellín é inspiradora: quando olhamos para os territórios mais frágeis e investimos neles, não só transformamos comunidades — transformamos a cidade inteira.