Unisinos celebra o Dia da Consciência Negra com reflexão, cultura e debate sobre políticas afirmativas

Crédito: Arthur Woltmann

A Unisinos celebrou, nesta quarta-feira, 19/11, o Dia da Consciência Negra com um encontro marcado por memória, arte e reflexão acadêmica, realizado na Claraboia da Biblioteca do campus São Leopoldo. A programação integrou cultura afro-brasileira e debates sobre a institucionalização das políticas afirmativas na Universidade, reconhecendo a data como ponto alto do Novembro Negro.

A tarde iniciou com uma apresentação dos estudantes da Escola Bahia, seguida de uma missa em homenagem a Zumbi dos Palmares, figura central da celebração e símbolo da resistência negra no Brasil. Para o professor Jorge Teixeira, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), a memória de Zumbi e de todos que lutaram, e seguem lutando, contra a opressão fundamenta o sentido da data. “Toda nossa celebração é em torno da memória de Zumbi dos Palmares e todas as outras pessoas que lutaram e lutam até hoje, inclusive vocês que estão aqui conosco.”

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Durante a programação, também foi realizada a Missa em celebração à memória de Zumbi dos Palmares, conduzida pelos padres Clóvis Cavalheiro e Felipe Soriano. O momento reforçou o caráter espiritual e comunitário da data, destacando a resistência, a ancestralidade e a luta histórica do povo negro como dimensões que atravessam tanto a fé quanto a vida social.

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A programação cultural também prestou homenagem à cantora e militante Leci Brandão, reconhecida por sua contribuição à música e ao movimento antirracista. A poetisa Silvia Duarte, acompanhada por Claudio Quadros e Alemão Charles, apresentou Uma afrodescendente, interpretando o legado da artista, especialmente por meio do álbum Canções Afirmativas (2006), que aborda questões raciais, educacionais e identitárias.

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A pró-reitora de Administração, Silvana Model, destacou que representatividade deve permear todos os espaços da vida universitária. “Estarmos juntos hoje significa honrar essa trajetória e reafirmar que essa pauta nos pertence enquanto comunidade acadêmica. Representatividade importa nas salas de aula, na produção científica, nas lideranças e em todas as dimensões da vida social. Uma universidade só se fortalece quando reconhece e valoriza diferentes histórias e vozes.”

Na sequência, ocorreu o painel “Políticas afirmativas: a Unisinos na trilha da justiça socioambiental na luta antirracista”, mediado pelo professor Milton do Prado, coordenador do Curso de Realização Audiovisual (CRAV). Participaram o Diretor de Marketing e Relacionamento da Unisinos, Gustavo Bittencourt, e o Pró-reitor de Políticas Afirmativas da UFRGS, Alan Brito, que discutiram o papel dessas políticas como instrumentos estruturantes de transformação social.

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Milton abriu o painel reforçando que as políticas afirmativas dialogam diretamente com os valores jesuítas da Unisinos, pautados pela defesa da justiça social, da equidade e do compromisso com populações vulnerabilizadas. “Não é possível pensar o futuro da humanidade sem justiça social. As políticas afirmativas são hoje uma necessidade legal, mas também respondem plenamente aos preceitos que orientam a Universidade.”

Gustavo destacou que o avanço da inclusão étnico-racial depende de seu enraizamento institucional. “Quando a inclusão se institucionaliza, a chance de transformação efetiva é muito maior. Se o racismo é sistêmico, o antirracismo também precisa ser sistêmico, estrutural. Cada pessoa precisa descobrir qual é sua forma de colaborar.”

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Ampliando o debate, Alan refletiu sobre como as políticas afirmativas atravessam a democracia, a cultura e os modos de existir. Para ele, o impacto dessas ações ultrapassa a sala de aula e alcança dimensões subjetivas, históricas e sociais. “Aquelas crianças que estavam sentadas aqui, elas não nascem racistas. Cada pessoa que está aqui não nasceu racista. A gente vai aprendendo. Então, se a gente aprende, a gente pode desaprender. E essa é a potência também dessas políticas de ação afirmativa nas universidades.”

O professor reforçou que o país vive um momento histórico de ampliações e tensionamentos em torno da inclusão. Apesar dos avanços, ainda é necessário refletir coletivamente sobre a profundidade das transformações em curso. “Eu digo que a gente ainda não parou para refletir sobre o impacto dessa política de ação afirmativa nas universidades. Estamos vivendo esse processo. Algumas pessoas querem nos sabotar, outras defendem com muita intensidade. Ainda não refletimos coletivamente sobre esses impactos e eu posso afirmar que eles são múltiplos.”

Crédito: Arthur Woltmann

O encontro foi encerrado com a apresentação musical do Samba do Irajá e com a Feijoada do Neabi, reunindo a comunidade em um momento de convivência e celebração.

A Unisinos reforça que o Dia da Consciência Negra é mais do que uma data de memória: é um compromisso contínuo com a responsabilidade coletiva. As ações do Novembro Negro reafirmaram o empenho institucional em promover equidade racial e construir uma universidade cada vez mais diversa, justa e inclusiva.

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