Traço e crítica afiados

Conheça José Alberto Lovetro, o cartunista que vai contar sua história no TEDxUnisinos 2014

Crédito: Divulgação

Ele é um jornalista premiado e cartunista de sucesso. Um desenhista autodidata, mas que anseia em compartilhar conhecimento e colaborar com o aprendizado de crianças e jovens do país. O nome dele é José Alberto Lovetro, mas é mais conhecido como JAL, e estará no TEDxUnisinos para falar sobre a sua reconhecida carreira, que transpassou por diferentes áreas, e atualmente finaliza um livro sobre o uso de quadrinhos e humor gráfico nas escolas. “A mágica é que, desde os homens das cavernas, o desenho vem pela história da humanidade reproduzindo o mundo pela visão do ser humano de cada época. Todas as invenções começaram por um desenho. Então a conexão entre arte, humor e observação da sociedade e da realidade é total”, afirma. Acompanhe!

– A vocação para arte vem desde cedo?

Sim. Desenho desde criança. Mas foi na escola do Ensino Médio (antigo ginásio) que desenvolvi um jornalzinho de humor e quadrinhos no colégio. Sou autodidata no desenho.

– Foi o cartunismo que pautou o jornalismo ou o jornalismo que segmentou a arte no início de sua carreira?

Comecei desenhando e achei que para ser um bom chargista era preciso fazer um curso de Jornalismo. Acertei. A visão crítica do mundo por um jornalista é a mesma do chargista. Só que com mais informação e formação para as análises sociais e políticas do mundo que um chargista deve ter.

– Para um jornalista, qual é a conexão entre arte, humor e observação da sociedade e da realidade?

O humor é a crítica às regras impostas ao ser humano. E sem crítica não há evolução. Uma charge pode se tornar mais real que uma fotografia, por exemplo. A foto dos presidentes nos livros escolares é posada e retocada. Na charge o presidente é mostrado como ele é na realidade: careca, barrigudo, etc. A mágica é que, desde os homens das cavernas, o desenho vem pela história da humanidade reproduzindo o mundo pela visão do ser humano de cada época. Todas as invenções começaram por um desenho. Então a conexão é total.

– Como foi a pesquisa “in loco” para a elaboração do livro sobre o uso de quadrinhos e humor gráfico nas escolas? Qual é o espaço para o uso desse tipo de material?

Nos anos 90 fiz parte da experiência da utilização da linguagem dos quadrinhos em escolas públicas da periferia pela FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação, ligada à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Um sucesso que foi expandido em outras experiências com escolas particulares e do estado. Em 2005 eu e a professora Sonia Bibe Luyten, criadora do curso de editoração de quadrinhos na ECA-USP nos anos 70 e com trabalhos no Japão e Europa, fizemos uma nova experiência com apoio da Secretaria de Educação Municipal de São Paulo em duas escolas da periferia. Foram três meses implementando os exercícios da linguagem de HQs em diversos cursos em ensino básico e médio. O resultado foi o melhor possível, elevando o rendimento dos alunos em até 100%. Finalizamos com uma exposição dos alunos em um shopping da região. É uma solução simples e sem necessidade de verbas para implantação imediata nas escolas. Basta treinamento dos professores e livros com exercícios que já fazem parte do material usual dentro de uma escola.

– Como os quadrinhos e o humor podem auxiliar na educação?

A nossa memória é visual. Aprendemos tudo pela observação e já se sabe que a leitura de impresso consegue render pelo menos 30% a mais de apreensão de informações pelos alunos do que leitura digital. Também é essencial utilizarmos todas as possibilidades ligadas às artes para que a criança tenha boas sensações para querer ficar na escola. E com a implantação das escolas em tempo integral que são plataforma atual em vários governos, trabalhar bem o onírico ajuda a criança a querer ir para a escola.

– Já houve algum retorno dos pais ou outros responsáveis em relação à aplicação dos quadrinhos nas escolas?

Nosso retorno sempre foi focado em professores. Mesmo porque há necessidade premente de que as crianças tenham vontade de ir para a escola aprender. E isso é diretamente ligado ao estímulo que recebem para desenvolver seus próprios sonhos. O desenho é a forma mais simples e direta para que a criança construa histórias e imagens próprias tornando-se um ser comunicador. Os professores, pais, diretores das escolas e os alunos aprovam.

– Quais serviços que a JAL Comunicação presta para a Maurício de Sousa Produções?

Assessoria de Comunicação em conjunto com a assessoria de imprensa. Mas também há envolvimento na área de criação. Mauricio de Sousa representa nesse momento a sobrevivência dos quadrinhos no Brasil por conseguir ganhar leitores a partir dos cinco anos de idade. Mantêm atualmente cerca de 10 milhões de leitores/mês apenas com suas revistas. Com isso dá base para todo o mercado de quadrinhos, pois criar leitor na área ele já fez. Basta cativá-los com outros autores também.

– Quais são as principais diferenças dos contextos em que você trabalhou, desde em cenários como as Diretas Já, até seu trabalho no Japão, em comparação com seu contexto atual?

Sempre fui multimídia. Comecei como desenhista de quadrinhos na Folha de São Paulo em 1973 já publicando meu próprio personagem. Depois como jornalista e desenhista na imprensa da colônia japonesa em São Paulo pela revista Arigatô. Ao mesmo tempo entrei na TV Tupi de São Paulo para ilustrar o programa Os Trapalhões. Fui chargista do DCI e Shopping News, como chargista e também fiz parte de um grupo que produzia filmes que ganharam prêmios internacionais. Enfim, trabalhei em jornais, revistas, internet, rádios e TVs. Na área de cidadania participei ativamente da Campanha Diretas Já, criei a Associação dos Cartunistas do Brasil na qual sou presidente em trabalho voluntário, participei de grupo de jornalistas contra a violência que desencadeou no projeto nacional de troca de armas por dinheiro pelo poder judiciário. Ganhei o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos pelos personagens Sport Gang que desenvolvia com Januária Cristina e Gualberto Costa em jornal infantil distribuído em escolas. Também pela participação na Campanha Diretas Já. As plataformas podem ser diferentes, mas a missão é a mesma: melhorar as condições de trabalho e educação de uma parcela carente da população.

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