Obesidade infantil

Pesquisa verificou que uma em cada três crianças sofre com sobrepeso em Porto Alegre

A obesidade é um dos problemas de saúde mais graves deste século. Uma pesquisa recente do IBGE verificou que uma em cada três crianças sofre com sobrepeso em Porto Alegre. Os dados alarmantes não param por aí: de cada dez alunos com idade entre cinco e 14 anos, pelo menos três estão com peso 20% ou mais acima do valor considerado saudável. Esse cenário preocupante chamou a atenção dos pesquisadores do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos, e deu origem a pesquisa “Adesão aos 10 passos da alimentação saudável para crianças entre escolares do 1º ano das escolas municipais de ensino fundamental de São Leopoldo”, que estuda o comportamento alimentar de crianças de seis e sete anos.

“Como sabemos que dois dos principais fatores que contribuem para o excesso de peso e a obesidade são o padrão de consumo alimentar e atividade física, tivemos interesse em avaliar essa condição nestes escolares que frequentam a rede municipal de ensino de São Leopoldo”, conta a pesquisadora Ruth Henn. Segundo ela, a escolha também teve um aspecto logístico: uma professora do Curso de Nutrição da Unisinos e nutricionista da SMED trabalha na equipe de nutrição da Secretaria de Educação. “Essa proximidade fez com que a gente focasse na rede municipal de educação”, explica Ruth. Os primeiros resultados já estão sendo analisados. “Quase 40% desses escolares têm excesso de peso. Desses 40%, 16% têm obesidade”, alerta Ruth. “É um percentual bem alto, e não imaginamos que essa condição seja muito diferente em outras escolas do município.”

Ruth conta que o objetivo da pesquisa é verificar o padrão de consumo dessas crianças. Para isso, os pesquisadores utilizaram um instrumento de avaliação, que identificou uma prevalência grande de escolares consumindo o que eles chamam de “marcadores de alimentos não saudáveis”. Ou seja: alimentos industrializados e ultra processados; que contêm alto teor de gordura, açúcar e  sódio. Exemplos são os salgadinhos e as bolachas recheadas. “Nas escolas estudadas há um grande contingente de escolares de classes sociais D e E, que têm menor poder aquisitivo. Isso dá uma carga de preocupação maior, porque são essas classes que estão se alimentando de forma menos adequada”, diz Ruth. “Mas as classes altas também comem fast food, por exemplo. Com maior preço, mas mesmo teor elevado de gordura e sódio”, pondera.

As entrevistas da pesquisa foram realizadas por meio de um questionário aplicado aos pais das crianças. Ruth explica que foram estabelecidos marcadores de alimentação saudável e marcadores de alimentação não saudável, com base na literatura.

As mães das crianças diziam quantos dias da última semana aqueles alimentos tinham sido consumidos e, a partir daí, os pesquisadores estabeleciam um ponto de corte, para considerar um consumo muito frequente (cinco dias ou mais) tanto para marcadores saudáveis quanto para não saudáveis. “O que a gente viu é que eles consumiam frequentemente os alimentos não saudáveis”, conta Ruth. A pesquisadora diz que os dados da pesquisa serão encaminhados à Secretaria de Educação de São Leopoldo, para que essa pense em políticas que possam ser desenvolvidas no âmbito da escola, para reverter esse quadro. “Estamos estudando. Sabemos que uma intervenção que ocorre pontualmente e depois não permanece, não vai levar a lugar nenhum. Então, temos que pensar uma intervenção que seja incorporada pelos gestores da educação”, diz Ruth. “Os estudos têm mostrado que o tempo certo é dois anos ou mais, porque é preciso mudar uma cultura, que envolva a escola, o escolar, a comunidade e a família. É um desafio.” A intervenção também será pensada para contemplar aspectos relacionados à atividade física, e necessitará da presença da escola. “Os estudos mostram que se não há atores dentro da escola que assumam esse papel, a intervenção é fadada ao insucesso”.

Ruth explica que a alimentação envolve diferentes dimensões, incluindo a econômica e a cultural. “Muitos dos alimentos não saudáveis são produzidos em grande quantidade a um custo muito baixo. Então, o acesso é mais fácil”, diz. “Mas também tem que ver o que um pacote de salgadinho significa para a criança, e o que significa para uma mãe e para um pai dar um salgadinho ao seu filho.” Há também o componente hereditário e o ambiente obesogênico. Ou seja, quando os pais são obesos, eles têm um tipo de padrão de alimentação que se estabelece na família. Não tem como a criança sair desse contexto. “Por isso, atingir a família é fundamental”, destaca a pesquisadora. Dentro do fator econômico, está o baixo preço de produtos como óleo e açúcar. “Isso barateia a produção de alguns alimentos concentrados nesses componentes”. E também há a questão da palatabilidade desses alimentos, isto é, o sabor que eles apresentam, e a saciedade que eles conferem a quem os consome.

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