Intercâmbio que transforma: conheça a trajetória de Hanna Vichel

Primeira aluna do curso de Enfermagem da Unisinos a fazer um estágio curricular fora do país conta um pouco do seu trabalho e de sua vida na Alemanha

Crédito: Arquivo Pessoal

Cedo pela manhã, aproveitando a brisa da primavera, estação recém-chegada na cidade de Münster, localizada no Noroeste da Alemanha, Hanna Vichel estaciona a sua bicicleta no pátio do hospital St. Franziskus e inicia mais um dia de trabalho. A aluna do curso de Enfermagem da Unisinos vivencia essa rotina desde março deste ano, quando começou o seu estágio curricular. Ela atua na área neonatal da instituição.

A presença de Hanna na “cidade alemã das bicicletas”, como Münster é conhecida – há mais de 500 mil na região, que tem aproximadamente 310 mil habitantes –, a fez entrar para a história da Unisinos: é a primeira aluna de Enfermagem a fazer um estágio curricular fora do país.

Crédito: Arquivo Pessoal

O Notícias Unisinos conversou via Teams com a estudante, para conhecer um pouco de sua história e rotina em uma região tão distante da gente. Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista.

Uma visita que mudou tudo

Tudo começou em 2023, quando a estudante planejava onde realizaria o seu estágio curricular. Ela mora em Gramado, e não há um hospital próximo que pudesse aceitá-la como estagiária. Hanna se questionava como iria conseguir cumprir a atividade, já que mora longe de Porto Alegre.

No mesmo ano, um grupo de estudantes e professores de Enfermagem das cidades de Münster e Osnabrück estavam a caminho de Santa Maria para participar de uma reunião, quando resolveram fazer uma parada em São Leopoldo para visitar a Unisinos. Por não haver uma pessoa que ajudasse a traduzir o alemão para o português, Hanna foi convidada a ajudar na tarefa, já que conhecia a língua.

Crédito: Gustavo Ev

Depois desse encontro, Hanna começou a cogitar em fazer de seu estágio um intercâmbio. “Já que eles vieram para o Brasil, posso ir para a Alemanha também”, lembra o que pensou na época a estudante. Hanna revela que esse foi um momento crucial, pois era a última chance de iniciar um estágio antes de se formar. A partir disso, iniciou-se negociações entre universidades de Münster e Osnabrück com a Unisinos. “Ter a coordenação do curso, professores e a universidade apoiando ajudou muito nesse processo”, avalia a aluna.

Diferenças na área da saúde

A formação dos profissionais de enfermagem em terras alemãs tem algumas diferenças com relação à brasileira. Ela pode ser feita via graduação, voltada para profissionais que buscam trabalhar em ramos específicos da enfermagem, ou via ausbildung, que seria o equivalente a um curso técnico no Brasil. Nessa segunda opção, os alunos se formam em menos tempo, e têm aulas práticas em hospitais universitários.

Assim que chegou no hospital St. Franziskus, chamou a atenção de Hanna o uso de alguns materiais hospitalares diferentes. Ela lembra que, quando fazia estágio no Brasil, se deparava com situações em que havia falta de medicamentos. “Já aqui na Alemanha, percebi materiais que eu nem sabia que existiam, e que os profissionais usam de forma rotineira”, destaca.

A futura enfermeira comenta que sempre teve interesse nas áreas de cuidados neonatais e paliativos, campos nos quais atua no hospital onde está. Ela explica que notou um grande foco do país pelos cuidados com os idosos, uma vez que a maioria dos pacientes atendidos no hospital onde trabalha foram de pessoas mais velhas. “Esse tipo de cuidado exige um olhar mais atento e minucioso”, enfatiza Hanna.

Um novo choque cultural

Hanna comenta que sua família é de origem alemã, e que já tinha visitado o país algumas vezes durante a sua vida, então pensou que não haveria um choque cultural tão grande. “Mas toda vez que eu venho eu tenho um choque cultural”, conta, entre risos.

O comportamento do povo alemão foi o que mais chamou a sua atenção nos primeiros dias vivendo em Münster. Enquanto os brasileiros são conhecidos por ser um povo receptivo e “acalorado”, os alemães prezam mais pela privacidade. “Eles levam um pouquinho mais de tempo para se aproximarem de uma pessoa desconhecida. Mas isso, depois de superado, acaba criando relacionamentos mais profundos”, compara Hanna.

Crédito: Arquivo Pessoal

A futura enfermeira percebeu também o gosto dos habitantes locais pelo uso de bicicletas. Com o grande movimento das bikes pela cidade, Münster precisou adotar regras que os ciclistas precisam seguir para transitar pelas ruas, como fazer sinal com as mãos para conversão à esquerda ou direita. Além disso, as crianças são instruídas na escola a como se comportar para andar de bicicleta. Para Hanna, essas ações trazem um sentimento de segurança. “Eu uso bicicleta para tudo aqui. É bem prático, já que não dependo de ônibus ou de carro”.

Com a chegada da primavera no hemisfério norte, os dias ficam mais longos e o frio deixa de fazer parte da rotina de Hanna, que pretende aproveitar a oportunidade para conhecer mais a cidade. “Tudo aqui está verde e ganhando

mais vida”, comemora a estudante, que quer visitar castelos antigos e um lago muito frequentado para piqueniques. “Também não posso deixar de passar nos cafés daqui. Para mim, são os melhores lugares para ir”.

Crédito: Arquivo Pessoal

Novos horizontes

Estar na Alemanha é uma oportunidade para que Hanna sonhe com novos horizontes. Ela pretende, futuramente, voltar ao país já formada. “Conhecer um pouco mais sobre a enfermagem em um outro contexto me ajuda a crescer mais como futura profissional. E a como se desenvolver como pessoa também, ter flexibilidade, se adaptar. É algo que, na enfermagem, tu sempre tens que saber fazer”, observa a estudante. Ao mesmo tempo em que faz estágio em Münster, Hanna tem se dedicado ao desenvolvimento de seu TCC, que fala sobre as competências da enfermagem obstétrica nacional e internacional.

Hanna acredita que ser a primeira aluna de Enfermagem da Unisinos a fazer estágio em um outro país pode ajudar futuros estudantes a seguirem o mesmo caminho. “Muitos não sabem como dar esse passo para fora do Brasil. Se a faculdade oportuniza isso, é muito mais fácil. Ter a Unisinos fazendo essa conexão ajudou muito”, destaca.

Segundo Vania Schneider, coordenadora da graduação em Enfermagem da Unisinos, Hanna foi a responsável por abrir as portas para uma nova oportunidade que o curso pode oferecer. “Nós, enfermeiros, somos profissionais fundamentais no cuidado humano, o que exige a busca constante do aprimoramento das nossas competências. A Hanna, ao vivenciar um sistema de saúde distinto do Brasil, contribui com reflexões para o curso, acerca das aproximações e os distanciamentos que existem entre as duas realidades”, explica a professora.

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