Doutorando do PPG em Engenharia Civil está realizando estágio em Portugal

Tese busca beneficiar a agricultura da região sul do Brasil através do biochar, carvão produzido a partir de biomassa e que traz diversas vantagens para o solo

Crédito: Divulgação

A oportunidade de estudar no exterior pode ser o diferencial para alunos e pesquisadores. Quando estamos realizando um trabalho acadêmico, nos deparamos, muitas vezes, com dificuldades para encontrar textos, fontes e até mesmo a chance de colocar em prática nossa pesquisa. E como o mundo é uma fonte inesgotável de conhecimento, às vezes, o que buscamos para aperfeiçoar nosso trabalho pode estar do outro lado do planeta.

Foi o que aconteceu com o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unisinos, Genyr Kappler. O estudante foi contemplado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para participar do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) e aperfeiçoar sua tese na Universidade de Aveiro (UA) – uma das instituições parceiras da Unisinos em Portugal.

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Segundo o doutorando, o objetivo de sua pesquisa é o desenvolvimento de produtos a partir da biomassa residual agrícola por meio da conversão termoquímica, tendo como principal foco o carvão biochar, devido a suas características únicas possibilidades de uso. “Ainda não temos dados para o biochar de resíduos agrícolas no Brasil, nem estudos sobre suas características e o efeito destas no solo. Então, a pesquisa é fundamental para que sua aplicação ocorra de maneira adequada e os resultados sejam positivos. Além disso, precisa-se estabelecer critérios, padrões e normas sobre a produção e uso seguro do biochar”, afirma.

Com a relação entre Unisinos e Universidade de Aveiro, Genyr está usufruindo dos equipamentos presentes na instituição de Portugal para construir sua tese, além de trocar experiências com outros profissionais da área. “É uma oportunidade fantástica por diversos motivos. Um deles é a existência de uma estrutura de pesquisa dedicada a décadas na área de conversão térmica da biomassa, e com laboratórios bem estruturados. Também o contato com pesquisadores da UA e doutorandos de diversos países proporcionam uma excelente rede de relacionamento para trabalhos futuros”, declara.

Genyr está sendo coorientado pelo Prof. Dr. Luís Antônio da Cruz Tarelho, que esteve na Unisinos em 2017 para realizar um curso sobre Biomassa e Bioenergia. Durante o evento, o doutorando conheceu o pesquisador da Universidade de Aveiro e percebeu que seria uma grande oportunidade realizar parte de sua tese em Portugal. Agora que eles estão trabalhando juntos na pesquisa, Genyr destaca que o contato dos dois é fabuloso.

“O professor Tarelho tem sido muito atencioso desde minha chegada. É extremamente ativo e intensamente envolvido em diversas pesquisas simultaneamente, nas quais pude tomar parte. Apesar de ser muito atarefado, sempre foi muito gentil no trato a minhas dúvidas e oportunizou diversos momentos de diálogos em que pudemos debater sobre o tema de investigação. Tudo isso foi muito útil na definição da metodologia e outros aspectos do trabalho”, afirma.

A tese de Genyr é intitulada de “Desenvolvimento de produtos a partir da biomassa residual agrícola por meio da conversão termoquímica”, compõe a linha de pesquisa “Gerenciamento de Resíduos” e tem como orientador o professor Carlos Alberto Moraes. O doutorando pretende defender seu trabalho até março de 2021.

Entenda na íntegra a tese e sua importância para o Brasil:

O Brasil é um grande produtor agrícola e é previsto aumento significativo da produção nas próximas décadas para atender o aumento da demanda por alimentos. A agricultura intensiva permite obter altos índices de produção, porém é uma atividade que utiliza grandes quantidades de adubos químicos e pesticidas, impactando o solo de diversas maneiras, por exemplo, esgotamento de nutrientes, erosão e lixiviação de químicos. Além disso, a atividade agrícola gera grandes quantias de resíduos que, se não geridos de maneira correta, são fontes de poluição.

A sustentabilidade da agricultura exige o desenvolvimento de técnicas que permitam que o solo se mantenha produtivo e que o aumento das áreas de cultivo não aumente os impactos dessa atividade sobre o ecossistema. Diversas pesquisas sustentadas em observações em “terras pretas da Amazônia” sugerem que o uso do biochar melhore a produtividade do solo e a atividade microbiana, além de minimizar a perda de nutrientes por lixiviação.

Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo o desenvolvimento de produtos a partir da biomassa residual agrícola por meio da conversão termoquímica, tendo foco o biochar. Ele vem sendo reconhecido como um biomaterial com aplicações múltiplas, incluindo o uso na agricultura, recuperação de solos degradados, filtração de efluentes e emissões gasosas, além de estocar CO2 na forma de carbono por centenas ou milhares de anos.

O biochar é produzido exclusivamente de biomassa biogênica, por exemplo, material vegetal. Os resíduos agrícolas são, portanto, uma fonte amplamente disponível e sustentável de matéria prima. Ao convertermos os resíduos da agricultura em novos materiais, estamos criando um ciclo fechado para os materiais inerentes às biomassas, trazendo benefícios ambientais, enquanto se agrega valor a estes resíduos. Para os experimentos selecionou-se três resíduos representativos da agricultura no Brasil e na região sul, sendo estes o bagaço da cana-de-açúcar, a casca do coco verde e a casca de arroz.

O uso do biochar na agricultura no Brasil ainda é pouco estudado. Além disso, precisa-se estabelecer critérios, padrões e normas sobre a produção e uso do biochar para fins agrícolas. Desta forma, a caracterização das biomassas e dos produtos de sua conversão pelo processo de pirólise permitem gerar um banco de dados para as biomassas nacionais, bem como estudar os efeitos de sua aplicação em diferentes segmentos, por exemplo, na agricultura.

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