Conferência 2023 do Certal discute a relação entre democracia e redes sociais 

O evento, que ocorreu na Unisinos Porto Alegre, reuniu representantes do governo, de órgãos estaduais, o reitor da universidade, decanos e professores da Escola de Direito e da Indústria Criativa para debater sobre a telecomunicação em suas diversas facetas

Na manhã da última terça-feira (05/12) ocorreu no campus Porto Alegre a Conferência Certal 2023. O tema foi “Institucionalidade de telecomunicações” e os tópicos da conversa foram a regulamentação, pirataria, meios, fake news e liberdade de expressão.  

Abertura do evento 

O Certal, Centro de Estudos para Desenvolvimento das Telecomunicações e do Acesso à Sociedade da Informação da América Latina, se juntou à Unisinos para promover um debate sobre como se dá comunicação nos dias atuais.  

O reitor da universidade, Padre Sergio Mariucci, agradeceu a todos os presentes e destacou o papel da Universidade para a educação básica e a educação superior, enfatizando que ela tem uma responsabilidade de formar cidadãos, ao puxar para si a pesquisa e a crítica.  

“O ensino e o conhecimento que a universidade gera, ela sim prepara e habilita a pessoa para ocupar funções de responsabilidade que a sociedade precisa, mas ela pergunta não apenas como fazer, mas porque fazemos isso e para que faço isso. A liberdade e a verdade, temas centrais do dia de hoje, atuam como realização do ser humano. A Unisinos preza por essa responsabilidade”, aponta.  

Além de representantes da sociedade civil, do judiciário, do executivo do Brasil, Uruguai e Argentina, também estiveram presentes os decanos e professores da Escola de Direito e da Indústria Criativa. 

Reitor da Unisinos abre os trabalhos da manhã de debates discursando sobre a função da universidade. Foto: Gabriele Rech 

O impacto das fake news na sociedade e na democracia 

Os palestrantes Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Caetano Cuervo Lo Pumo, chefe da Procuradoria Regional da República e Marcelo Beckhausen, desembargador do Tribunal Regional Eleitoral do RS, discutiram sobre a liberdade de imprensa como um direito da sociedade. 

Para enriquecer o debate, Marcelo Rech destacou o conceito de “desertos de notícia”, ou seja, locais do Brasil que possuem pouco espaço para a atividade jornalística, em que se vê a “morte” de jornais. O presidente da ANJ considera essa uma grande ameaça para o jornalismo profissional e falou sobre as redes terem se tornado um campo de batalha que acaba dando espaço para o estímulo ao extremismo. 

Liberdade de expressão na era digital 

A decana Laura Dalla Zen representou a Escola da Indústria Criativa, mediando o painel sobre liberdade de expressão. A professora destacou que a temática da desinformação e da pós-verdade já está sendo muito debatida na Unisinos e, inclusive, deverá orientar os trabalhos da universidade em todas as dimensões pelos próximos anos. Por isso a importância de o evento ser sediado aqui, neste momento. 

A mesa também foi composta por autoridades como o vice-prefeito de Porto Alegre Ricardo Gomes e o desembargador do TJRS Jaime Weingartner. Assim como o advogado Gustavo Paim, todos comentaram sobre como as redes sociais acabam, de certa forma, ameaçando a democracia. Temas como os debatidos no evento são complexos e, justamente por isso, demandam um olhar transdisciplinar, segundo a decana Laura. “São visões distintas de um mesmo problema. É isso o que faz a universidade ser universidade. Esse é o espaço para essas tensões.” 

A decana da EIC afirmou que os temas sobre desinformação e pós-verdade são caros à Unisinos. Foto: Gabriele Rech 

Combatendo a pirataria digital 

Entre as autoridades presentes na mesa de debate, o delegado de polícia do Departamento Estadual de Investigações criminais Luís Firmino explicou sobre a chamada “ciberpirataria”/pirataria digital: “é a comercialização ou distribuição de conteúdos digitais que possuam direitos intelectuais, conhecidos como copyright”. Firmino também mencionou a existência das boxs e IPTVs, aparelhos de transmissão de conteúdo de televisão paga e streamings de forma clandestina. 

Ele explicou que o uso dessas ferramentas é uma forma de pirataria, e contribui para a violação de direitos autorais, impactando não só as grandes empresas, mas também pequenos criadores e até mesmo as nossas vidas num geral. Isso porque alguns sites com transmissão gratuita de pirataria coletam nossos dados, que podem ser utilizados para fraudes virtuais, por exemplo. “O brasileiro tem uma moralidade seletiva”, encerra o delegado. 

O decano do Direito, Miguel Wedy, mediou a mesa e relatou entusiasticamente que “a democracia cresce com a pesquisa, o debate e a troca de ideias que irão afetar o nosso futuro”. Segundo ele, “o evento foi fundamental para debater temas relevantes que exigem a participação de profissionais do Direito, das Comunicações, da Academia, de Instituições públicas e privadas, pois só assim teremos avanços nessas matérias”. 

Inovação tecnológica  

A última mesa deu espaço para a visão da Indústria Criativa, representada pelas professoras Maria Clara Aquino e Taís Seibt., A professora Maria Clara, uma das fundadoras do Instituto de Cultura Digital (ICD), comentou sobre uma pesquisa desenvolvida por sua equipe em parceria com o DigiLabour. O trabalho revelou que o que parecia ser fruto de Inteligências Artificias (IA) nas plataformas, era, na verdade, feito por humanos. Trata-se de “plataformas parasitas” de fazendas de cliques que oferecem trabalhos através de micro tarefas, como se fossem “vagas de emprego”. Essas tarefas são curtir e engajar posts em troca de dinheiro – mas por um valor “miserável”, menos de 1 centavo por ação, segundo Maria Clara. A pesquisa virou matéria no Nexo Jornal, e você pode conferir com mais detalhes aqui

A professora Taís Seibt ressaltou a importância de a universidade receber debates como este, e o quanto é significativo ser membra do Instituto de Cultura Digital e discutir temas a partir do campo da Comunicação.  

“Muitas vezes, os legisladores e os julgadores pensam a regulação sem ter uma visão mais abrangente, a de que as plataformas não são neutras. Há uma questão de mercado e de poder que impacta o jornalismo e, consequentemente, a democracia. Precisamos falar muito mais do que somente sobre o conceito de desinformação em si, sobre o que é verdade ou não. Precisamos falar, sim, sobre toda a estrutura desse ecossistema informacional.” 

Taís Seibt trouxe outras perspectivas sobre o que se deve priorizar numa conversa sobre as telecomunicações. Foto: Gabriele Rech 

A decana Laura Dalla Zen contou com exclusividade ao Mescla que deve se desenrolar, em breve, uma parceria entre o Instituto de Cultura Digital da Unisinos e a Certal para fortalecer a intersecção de temas complexos como o da conferência. 

Com uma gama de diversos pontos de vista, a conferência atingiu o objetivo de Pablo Scotellaro, presidente executivo da Certal, formado em Ciências da Comunicação pela Universidad de la República: o de gerar um diálogo com pessoas que tem a capacidade de transformar. “Foi uma tentativa de entender todos os fenômenos da telecomunicação, que é o fator mais integrador que existe. Queremos nos unir e aprender ainda mais com o Brasil”, encerra o uruguaio. 

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