Aula magna de Jornalismo (POA) e CRAV traz Jorge Furtado

Cineasta discutiu "O Mercado de Notícias" em bate-papo com os alunos

Crédito: Rodrigo W. Blum

A mistura entre jornalismo e cinema foi o que trouxe o cineasta Jorge Furtado ao centro da roda em um bate-papo com os alunos dos cursos de Jornalismo (POA) e Realização Audiovisual (CRAV) na Aula Magna 2014/2. Na pauta, “O Mercado de Notícias”, documentário escrito e dirigido por ele, que, como o nome já sugere, faz uma crítica ao mercado jornalístico: o papel da imprensa na construção da opinião pública e como mediador entre a informação e a sociedade; grandes coberturas; ética e o futuro do jornalismo. Na ocasião, estiveram presentes a coordenadora do Jornalismo(POA) , Thaís Furtado, e o coordenador do CRAV, Milton do Prado.

A apresentação de Furtado não seria mais bem feita senão pela professora Thaís, irmã do cineasta. Ela contou fatos da vida da família de seis irmãos, desde histórias da infância até a vida adulta, quando o destino os fez contadores de histórias. Thaís, com orgulho, finaliza: “Obrigada, Jorge, por ter dado voz aos jornalistas!”.

Crédito: Rodrigo W. Blum

O filme apresenta dois eixos: a interpretação da peça teatral, de Ben Johnson, a qual deu nome ao filme, e as entrevistas jornalísticas. Entre os atos cômicos do teatro, encenados por artistas da Casa de Cinema de Porto Alegre, o documentário ouviu treze consagrados jornalistas brasileiros. Segundo Furtado, o critério de escolha dos profissionais foi pessoal. “Meu desejo foi escolher pessoas conhecidas, que mesmo sem nome e veículo, o público saberia identificar; e profissionais cujos trabalhos eu consumo. É muito fácil falar mal de quem a gente não conhece, mas falar bem exige critérios”, comentou, ao ressaltar que realizou o documentário em defesa do bom jornalismo. “Queria que o Caco Barcellos também participasse, mas ele se atrasou”, lamenta.

“O Mercado de Notícias” original (do inglês, Staples of News), do dramaturgo britânico, data de 1626, quando foi encenado pela primeira vez. Furtado e Liziane Kugland foram os primeiros a traduzir a narrativa para a língua portuguesa. “A peça é enorme, nós fomos traduzindo e fazendo recortes, que melhor pudessem explicar o que é o mercado das notícias”, explica. Segundo ele, a peça de Johnson é uma sátira assertiva ao mercado de notícias e pode ser adequada tanto àquela época quanto aos dias de hoje. O responsável pela organização dos planos, os quais deram vida à película, foi o montador, e professor do CRAV da Unisinos, Giba Assis Brasil.

Crédito: Rodrigo W. Blum

No filme, Furtado faz uma excelente crítica aos descuidos da impressa com informações duvidosas. Entre eles, o conhecido caso Escola Base e outros dois, a bolinha que acertou o candidato político José Serra e o famoso Picasso pendurado na sala do INSS. Furtado contou que foi bacana fazer a seleção das notícias e que, se pudesse, colocaria outras. “A história do Picasso no INSS me encasquetou. Tentava contá-la e ninguém acreditava. Eu precisava de algum meio de tornar essa história pública”, contou aos alunos, ao explicar sobre o porquê da escolha desses cases.

Ele deu o exemplo dos jornais Folha de S. Paulo e Estadão [e recentemente adotado pelo jornal Zero Hora] que, em suas últimas edições, têm vindo com um folha envolta ao jornal que mostra a página inicial de um cidadão no Facebook, com os seguintes dizeres em sua foto publicada: “Tá na capa do jornal de hoje!!! Agora eu acredito!”, enfatizando o papel da imprensa na construção da opinião pública. Para o filme, Furtado selecionou setoristas de política para abordar as publicações da imprensa em relação ao assunto. “Jornalismo se tornou muito mais crítico ao Governo Federal depois de 2002”, ao apontar que depois da assunção de um governo popular, houve uma criminalização da política, pendendo a recortes incompletos da realidade.

O filme também instiga os profissionais a repensar o futuro do jornalismo. E Furtado, quando questionado sobre o papel do jornal após o advento da internet, opina que “o jornal que temos hoje não faz mais muito sentido”. Justifica-se, explicando que devemos atribuir ao impresso um novo valor. “O jornal em papel tem suas vantagens; ele é durável, possível de guardar e não recebe comentários anônimos”, brinca.

Cada profissional do jornalismo tem o seu estilo, as suas censuras, as suas vivências, “a memória é sempre interpretativa”. “Cara, acho incrível essa cena [referindo-se ao caso do Picasso no INSS], porque antes de publicar, nós precisamos ter certeza”, enfatizou. Quando interrogado se ele acreditava que o jornalismo é uma profissão de esquerda, contorna dizendo: “Esquerda e direita são conceitos que devem ser revistos na história. Jornalismo deve ser esquerdo – no sentido de desafiar verdades absolutas”.

Furtado finalizou com um sentimento de “quero mais” da união entre jornalismo e cinema. Deixou a brecha para um possível “O Mercado de Notícias 2”, já que jornalista tem sempre muito a contar. “No Jornalismo, assim como o documentário, chega uma hora em que temos que fechar a edição, mas a gente sempre continua alimentando”, lembrou, ao mencionar o site, que permanece sendo abastecido com as novidades do documentário e da repercussão na mídia.

+ Furtado

Além do atual sucesso de público “O Mercado de Notícias”, o cineasta gaúcho deixou outras contribuições memoráveis ao cinema, como os longas-metragens “O Homem que Copiava”, “Saneamento Básico – o filme”e “Meu Tio Matou um Cara”. O célebre curta-metragem “Ilha das Flores” viajou até Berlim, onde ganhou o Urso de Prata, no gênero documentário. Furtado também foi um dos fundadores da Casa de Cinema de Porto Alegre, da qual é integrante até hoje.

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