Estudo de microfósseis contribui com a busca pelo petróleo

Pesquisadores da Unisinos utilizaram ostracodes para reconstituir ambientes históricos

Crédito: Rafael Casagrande

Uma pesquisa conduzida pelo itt Fossil vai colaborar com o processo de extração de petróleo nas bacias brasileiras. Sob a coordenação do professor do Programa de Pós-Graduação em Geologia Gerson Fauth, o estudo utiliza microfósseis para determinar as idades de rochas marinhas e reconstituir o ambiente em que elas foram sedimentadas.

Nessa viagem ao passado geológico, os pesquisadores focaram a escala de tempo conhecida como Albiano, que corresponde ao período de 100 a 113 milhões de anos atrás. Na experiência, constataram diversas mudanças ambientais e geraram o conhecimento científico que será aplicado em bacias ainda pouco estudadas no país.

Concluído recentemente, o projeto foi financiado pela Petrobras e teve três anos de duração. Saiba mais sobre a iniciativa na entrevista a seguir.

Do que trata a pesquisa?

Gerson: Foram feitos estudos utilizando microfósseis. Para esclarecer, digamos que, quando uma pessoa estuda um fóssil, ela, na verdade, está analisando um animal ou planta que viveu em um passado geológico, há milhares ou milhões de anos. Nesse passado geológico existiram – e foram extintos – grandes animais, como dinossauros, e pequenos organismos invisíveis a olho nu. Hoje, quando você mergulha no oceano, no mar, há micro-organismos que você não percebe, mas que estão lá, em qualquer centímetro cúbico de rocha.

Quando uma companhia de petróleo faz perfurações em grandes profundidades, ela precisa saber as idades das rochas no fundo do mar. Para chegar a esse resultado, há uma série de metodologias. Uma delas é justamente o estudo dos microfósseis. Nós, do instituto, usamos microcrustáceos de até um milímetro de tamanho, chamados ostracodes, para datar a amostra e auxiliar nesse processo.

Por que a companhia de petróleo precisa saber a idade da rocha?

Gerson: Porque o alvo dela, o petróleo, está armazenado em rochas de determinadas idades, em camadas específicas. Além disso, a pesquisa permitiu a reconstituição do ambiente onde a rocha foi sedimentada. Assim, deu para saber se, naquele local, no passado geológico, havia um mar profundo ou raso, próximo ou distante da costa, com pouca lâmina d’água, muitos ou poucos nutrientes etc..

“O próprio município de São Leopoldo era um deserto antigamente.”

Gerson Fauth, pesquisador

Como funciona a extração desses micro-organismos?

Gerson: A companhia de petróleo extrai a amostra e nos envia. Em laboratório, a rocha é atacada quimicamente até quase virar pó. Nesse processo, o micro-organismo se solta da matriz e é colhido com o auxílio de um pincel. Depois, é “fotografado” pelo microscópio eletrônico de varredura e identificado com o apoio da literatura existente. A partir dessas informações, descobrimos a idade com base em tabelas, escalas de tempo geológico. Nesse estudo, analisamos cerca de 10 poços com até 80 micro-organismos de 100 a 113 milhões de anos cada.

Em linhas gerais, para que a pesquisa serve? Quais os benefícios diretos do projeto?

Gerson: Para contribuir na descoberta da idade da rocha e na reconstituição do ambiente em que ela foi depositada há mais de 100 milhões de anos. Em um dos poços estudados, por exemplo, a perfuração foi feita a 100 km de distância da costa e nós observamos que esses mesmos 100 km correspondiam a apenas 15 km no passado. O próprio município de São Leopoldo era um deserto antigamente. O estudo contribuiu para isso, mostrar mudanças geológicas.

A Petrobras vem investindo muito no estudo dessas rochas e agora pode aplicar o conhecimento gerado – tanto sobre datação de amostras quanto de reconstituição ambiental – em outras bacias, outras regiões. Assim, não haveria mais a necessidade de refazer a pesquisa a cada novo poço encontrado. Como universidade, nós temos o potencial para produzir pesquisa aplicada a fim de aumentar a base de informações sobre uma área restrita, da qual, até então, pouco se sabe.

Em que bacia o estudo foi feito?

Gerson: Na bacia de Santos.

“Foi o ‘casamento’ da pesquisa aplicada com a indústria. A gente tem o conhecimento, o mercado tem a necessidade.”

Gerson Fauth, pesquisador

O senhor falou sobre a possibilidade de aplicar o estudo feito aqui em outras bacias. Podemos dizer, então, que a pesquisa é como um modelo para ações futuras?

Gerson: É um modelo. O Brasil possui 31 bacias sedimentares. Dessas, umas 20 são petrolíferas e têm potencial para novas descobertas. Até hoje, só há conhecimento pleno de seis ou sete. Portanto, é provável que a gente possa pegar esse estudo e aplicar nas outras bacias.

Fazer literatura?

Gerson: Exatamente.

Por que a escolha por esse objeto de estudo?

Gerson: Esse projeto é financiado pela Petrobras e foi feito em conjunto com a empresa. O tema chegou até nós porque temos um grupo de pesquisadores aqui no itt Fossil que desenvolve esse tipo de estudo. Foi o “casamento” da pesquisa aplicada com a indústria. A gente tem o conhecimento, o mercado tem a necessidade.

Quem participou e em quanto tempo a pesquisa foi desenvolvida?

Gerson: Foram três anos. Dentro do instituto, existem vários projetos ligados à pesquisa aplicada, além de iniciativas individuais de mestrados e doutorados. Cada projeto tem seu próprio grupo de pesquisadores. Esse teve umas 15 pessoas envolvidas, entre professores, estudantes de graduação e pós-graduação.

O instituto pretende continuar os estudos nessa área?

Gerson: Sim. Temos executado outros projetos nessa mesma área e com o mesmo parceiro.

Já tem algum estudo em andamento então?

Gerson: Sim, dois novos projetos, com vistas a um terceiro. Existe uma série de outras bacias que ainda não foram descobertas e trabalhadas, mas com potencial tão grande quanto a de Santos, inclusive com a possibilidade de gerar reflexos financeiros. Mas tudo isso requer pessoas, formação de conhecimento, algo que vem sendo providenciado. Acreditem, a febre do ouro negro já existe no país.

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