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Impressões da infância

Existem coisas que são inatas a todo ser humano, como aprender a andar e se comunicar. E existem outras que dificilmente aprenderíamos sozinhos.

Uma delas é ser criança.

É incomum lembrarmos do primeiro passeio, da primeira roupinha ou da primeira papinha, salvo se algo realmente inesperado tenha ocorrido – quem nunca chorou ao ser obrigado a gostar de sopa que levante a mão!

Entretanto não esqueceremos daquele Natal no qual ganhamos o presente tão cobiçado o ano inteiro.

  

KEIL, Ernest. Die Gartenlaube. Illustriertes Familienblatt, Leipzig, 1903.

Lembro de um final de ano que eu e meus irmãos ganhamos nossa primeira bicicleta. Sim, era 1 bicicleta para 3. Ao mesmo tempo que aprendemos a pedalar, adquirimos nossas primeiras cicatrizes.

  

Almanaque Bertrand. Lisboa: Livraria Bertrand, 1941.

Sem falar dos presentes inesperados como aquela caixa cheia de peças para montar um rádio que se transformou no passatempo preferido do nosso Pai.

  

KOSMOS, Bild Unserer Welt. Stuttgart: Franckh, nov. 1973. v.69, n. 12

Quase tudo é novidade quando somos pequenos e por causa disso somos extremamente curiosos. O primeiro cigarro foi furtado da carteira do meu Pai e compartilhado com minha Irmã.
Até hoje lembro do enjoo depois da primeira baforada no Continental sem filtro. Essa experiência nos tornou antitabagistas.

  

LECTURE POUR TOUS. Paris: Librairie Hachette, sept. 1922

Eu tive sorte de conviver diariamente com meus Avós quando criança. Tenho muitas saudades de tudo que vivi com eles.

  

DER FAMILIENFREUND. Porto Alegre: Tipografia do Centro S.A., 1954

A casa dos Avós sempre será o território do quase tudo permitido diante do quase nada concedido na nossa casa.

  

KOSMOS, BILD UNSERER WELT. Stuttgart: Franckh, okct. 1973. v.69, n.10

Foi na casa da minha Vó Otília que aprendi a cozinhar. Lembro da porcelana, do fogão e da “Frigidaire” que apelidamos de elefante branco.

  

DIE GARTENLAUBE. ILLUSTRIERTES FAMILIENBLATT. Leipzig: Ernest Keil, 1903

Saudades dos cafés da tarde com minhas Tias, onde não faltava o chocolate quente com o pão feito na hora. Nesta mesma casa descobri que gostava de desenhar, passando as tardes às voltas com lápis de cor e papéis de todos os tamanhos trazidos da bolsa da minha Tia Melita, que lecionava artes plásticas numa escola no centro de Porto Alegre.
Mas o mais divertido era aproveitar quando ela estava na escola e entrávamos no quarto dela para experimentar os talcos e perfumes que ficavam no toucador.

  

A ILLUSTRAÇÃO. Paris: David Corazzi, dez. 1885. v.2, n.24

Da minha infância guardo um arrependimento de não ter me esforçado para aprender a língua alemã. Achava muito engraçado a pronúncia de certas palavras e sabia que a conversa ficava séria quando minha Mãe e minha Vó começavam a falar neste idioma. Certamente o assunto não era para criança ficar sabendo.

  

Coleção de Livros Didáticos

Na escola formamos nossos primeiros círculos de amizade. Sorte de quem ainda carrega amigos desta época. Não tenho certeza da autoria, mas acredito piamente no ditado: “Amigos verdadeiros são os que fazemos no jardim de infância”.

  

A ILLUSTRAÇÃO BRAZILEIRA. Rio de Janeiro: O Malho, 15 jun. 1909. v.1, n.2

Será na escola, ou bem mais tarde ... ou nunca, que vamos desenvolver o amor pela leitura. Tudo vai depender na liberdade de escolhas e da sorte de cair nas mãos algo realmente fascinante ou divertido.

  

STADT GOTTES. Steyl: Arnold Janssen, ockt. 1926

Bichos são importantes na vida de qualquer criança. Estar junto aos animais serve como um treino para as relações de afetos e cuidados futuros.
Adquirimos as primeiras noções de nascimento e morte através desse convívio. Suas vidas passageiras são inversamente proporcionais ao imenso amor trocado com eles.

  

STADT GOTTES. Steyl: Arnold Janssen, ockt. 1926

É também na infância que “socializamos” nossas imunidades. Aquela criança cheia de fricotes será forçada conviver com doenças e aprenderá a cuidar da sua saúde e dos que a rodeiam.

  

LECTURE POUR TOUS. Paris: Librairie Hachette, sept. 1922

Saberá da importância das vacinas doídas e dos remédios amargos que salvam vidas.

  

A ILLUSTRAÇÃO. Paris: Mariano Pina, nov. 1885. v.2, n.22

A televisão não era tão importante quanto as brincadeiras de rua. Na verdade, minha Mãe assumia o controle do que era permitido assistir naquela telinha preto e branco que existia na sala.
E quando as notas do boletim ficavam vermelhas era certo que o castigo era ficar sem ver os desenhos animados por um bom tempo.

  

KOSMOS, BILD UNSERER WELT. Stuttgart: Franckh, okt. 1973. v.69, n. 10

Quando criança não existia essa infinidade de lojas de roupas, muito menos os shopping centers. Passear no centro da cidade era algo bem mais humanizado.
Meu Avô era alfaiate e minha Mãe, por tabela, aprendeu a costurar com ele. Por isso, eu e meus irmãos tínhamos um guarda roupa limitado.
Aprendi cedo o valor do compartilhamento, pois o que ficava pequeno em um era repassado ao mais novo, para o azar da minha Irmã caçula que dificilmente ganhava uma roupa nova.

  

A ILLUSTRAÇÃO BRAZILEIRA. Rio de Janeiro: O Malho, 1 set. 1909. v.1, n.7

Outra “regra” para a “piazada” era a hora de dormir. Tirando o Ano Novo, ficar acordado até mais tarde era raro. O quarto era território conjugado de todos os irmãos.
Nossa vingança por ter que ir cedo para a cama eram as conversas no escuro ou o teatrinho de sombras.
Às vezes bastava ficar escutando o barulho vindo da cozinha da louça sendo lavada ao som do rádio para pegarmos no sono.

  

SCHORERS FAMILIENBLATT. Wien, Berlin: Z.H.Schorer, jan. bis juni, 1888. v.6

Perguntei a alguns colegas se eles sabem até que idade podemos ser considerados crianças e as respostas foram todas diferentes.
Para mim não existe uma idade específica para sairmos da infância, porque o ideal e nunca abandonarmos a curiosidade dos primeiros anos de vida em tudo o que fazemos no resto da nossa existência.

  

BRUMMBÄR KALENDER. Arroio do Meio: Alfons Brod, 1934.

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Elas foram tiradas de livros e revistas pertencentes ao acervo do Memorial Jesuíta Unisinos.

Escrito por Susana Holz - Bibliotecária do Memorial Jesuíta.

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