Um banquete para o amanhã

Projeto busca alternativas sustentáveis para a alimentação no futuro

Entrevista com, Bruna de Oliveira e Andreza Livramento, alunas da Unisinos que fazem parte do grupo que fundou o projeto Other Food, que pretende criar a concientização de que é possível buscar a solução para o problema da fome em plantas alimentícias não convencionais.

Capuchinha, língua de vaca, pulmonária. Os nomes podem parecer estranhos, mas essas três plantas são comestíveis e os gostos são parecidos com rúcula, radici e peixe frito, respectivamente. Normalmente, as pessoas não sabem disso ou não tem esse conhecimento, porque elas são plantas alimentícias não convencionais, ou simplesmente, panc’s. Chamadas popularmente de inços, mato ou daninhas, são espécies nativas que podem substituir com vantagem nutricional produtos que teriam que ser comprados no supermercado ou fora da safra.

“Essas plantas têm propriedades nutricionais e medicinais, e por causa de um desuso de gerações, que o conhecimento sobre elas foi se perdendo, porque nossos bisavós e os índios as utilizavam. É a sabedoria popular que a ciência moderna acaba excluindo”, comenta Andreza Livramento, estudante de biologia e bolsista parcial de licenciatura. As panc’s são facilmente encontradas, pois estão em todo canto.

Pensando nisso, Andreza e Bruna Pedroso, junto de mais duas colegas, Adriana Martelli e Elisiane Wolf, desenvolveram um projeto que faz dessas plantas, um ingrediente a mais na cozinha das famílias, o Other Food. A ideia surgiu a partir da divulgação do desafio mundial de combate à fome, Thought For Food, que para participar, a equipe deveria responder a seguinte questão: como alimentar nove bilhões de pessoas até o ano de 2050?

Foram três meses em que as alunas tiveram que apresentar tarefas para a divulgação do projeto. Nessa primeira etapa, criaram nome, logo, objetivo, definiram o público alvo e apresentaram um caso de sucesso, numa frequência semanal. Apesar de esperançosas, as meninas não foram selecionadas para a segunda etapa, o que também não desanimou elas. Bruna foi atrás da organização do TFF. “Eu precisava saber por que nós não fomos escolhidas. A nossa ideia foi tão legal, e eu queria pelo menos um feedback”, conta a estudante de nutrição e bolsista integral do Prouni. O retorno foi surpreendente. “Recebemos uma resposta do TFF dizendo que viram o nosso envolvimento no projeto. E com isso, eles achavam que não havia feedback melhor do que nós irmos até o seminário, em Portugal, e conhecer as equipes finalistas. Tudo isso arcado por eles”, conta. Lá, elas puderam aproveitar esse convite para conversar com empresários da área, assistir palestras e participar de rodas de conversa, sem a pressão de ser finalista.

O Other Food

Quando entrou na Unisinos, em 2010, Bruna sempre quis fazer algo que relacionasse a nutrição com causas sociais. E quando ouviu sobre as plantas alimentícias não convencionais, se encantou. “Eu descobri as panc’s por meio da professora Signorá Konrad. Ela nos levou a um sítio que trabalha com isso, e quando nos apresentou às plantas, eu achei genial. Um amor à primeira vista”, comenta. Esse encantamento todo de Bruna motivou Andreza, sua colega de transporte, a se apaixonar também. “Fui contagiada por esse amor e por causa de interesses, como questões sociais, e, por ser da biologia, eu sempre pendi mais para o lado ambiental. Fiz meu trabalho de conclusão de curso com as panc’s e comecei a trabalhar com as crianças em hortas”, fala a estudante de licenciatura.

O Other Food é dividido em quatro fases, o primeiro é fase de formação. Ele foca na criação de multiplicadores que levem o conhecimento sobre as panc’s. Por meio de rodas de conversa e oficinas, instruindo profissionais da saúde e da educação. A segunda é inserir o conhecimento dos multiplicadores nos espaços em que eles estão inseridos. Já a terceira e quarta andam juntas. A intenção é que nessas fases ocorra a implementação e a sustentação das hortas de alimentos não convencionais.

“A ideia desse movimento é popularizar e reinserir as panc’s na alimentação das pessoas e ajudar na questão da inclusão produtiva e social, geração de trabalho e renda, por meio da horticultura”, conta Bruna. Outro objetivo do projeto é estimular a criação de hortas sem o uso de agrotóxicos, com os alimentos não tradicionais, instigando a produção própria e resgatando o hábito alimentar do passado, mostrando que uma outra alimentação é possível.

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