A Unisinos inicia as ações que marcarão os 400 anos das Missões Jesuítico-Guarani com o lançamento de uma ação inédita que une arte, pesquisa e memória. Sob coordenação do recém-criado Instituto de Arte e Cultura da Universidade, o projeto TAPE é desenvolvido em parceria com o artista indígena Xadalu Tupã Jekupé, um dos principais nomes da arte indígena contemporânea no país.
A iniciativa abre oficialmente a programação da Unisinos, que se estenderá ao longo de 2026, com ações voltadas a revisitar e aprofundar a complexa relação histórica entre jesuítas e povos guarani, entendida não apenas como um episódio colonial, mas como experiência de intercâmbio cultural, produção artística e construção coletiva de conhecimento.
A primeira etapa do projeto consiste em uma residência de pesquisa financiada por uma bolsa institucional, criada especialmente para as comemorações. Durante o período, Xadalu realizará um levantamento inédito a partir de cartas e documentos jesuíticos do período missioneiro; viagens de campo pela região do Tape — que se estende pelo Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai —; além de estudos em acervos sobre iconografia, escultura e espiritualidade guarani.
O objetivo da pesquisa é identificar evidências visuais e simbólicas do Barroco Guarani, compreender o diálogo intercultural entre jesuítas e guaranis e recuperar passagens históricas pouco conhecidas, como a presença jesuítica na cidade de São Borja. O conceito-guia do projeto é Tape, palavra guarani que significa “caminho”, em referência ao percurso de memórias e narrativas que permanecem vivas, mas muitas vezes invisibilizadas.
Para Xadalu, a residência representa uma oportunidade de revisitar o período missioneiro sob uma perspectiva indígena contemporânea. “Olhar esse período colonial com uma narrativa decolonial é como viajar no tempo e se debruçar sobre a história. A arte é um portal que molda e amplia o tempo, o espaço e a memória”, afirma.
A equipe do projeto inclui o pesquisador e curador Aldones Nino, responsável pela fundamentação histórica, pelas leituras e pela curadoria editorial. Também integra a residência a assistente artística Isabelle Foliatti Ramalho, muralista com atuação no Brasil e no Mercosul e parceira artística de longa data de Xadalu.
Para a Unisinos, abrir as comemorações com uma residência conduzida por um artista indígena guarani expressa o compromisso institucional com a valorização de saberes indígenas contemporâneos e com uma abordagem decolonial do legado missioneiro. A iniciativa busca reposicionar a história das Missões como experiência viva, marcada por intercâmbio cultural, espiritualidade, arte e educação.

Sobre o artista
Nascido em Alegrete (RS), Xadalu Tupã Jekupé é um dos artistas indígenas brasileiros de maior projeção internacional. Sua produção explora temas como resistência e memória guarani, dialogando tanto com o legado do Barroco Missioneiro quanto com processos de apagamento cultural no pampa. Seu trabalho abrange pintura, serigrafia, fotografia, instalação e muralismo. O artista já participou de residências na França, Espanha, Itália e Chile, além de instituições como o Collegium (Arévalo) e o Humboldt Forum (Berlim). Suas obras integram acervos como o Museu Nacional de Belas Artes (RJ), o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte do Rio, o Museu das Culturas Indígenas, a Fundação Iberê Camargo, o Tesouro da França e o Collegium (Espanha).
A Unisinos e os 400 anos das Missões
Durante o ano de 2026, a Unisinos promoverá uma ampla programação acadêmica, cultural e científica dedicada aos 400 anos das Missões Jesuítico-Guarani, período fundamental para a formação cultural, social e simbólica do Rio Grande do Sul. As ações envolverão seminários, exposições, publicações, atividades de extensão, eventos artísticos e projetos de pesquisa interdisciplinares voltados a revisitar o legado missioneiro sob novas perspectivas. A iniciativa busca fortalecer o papel da Universidade como agente de preservação e atualização desse patrimônio histórico, aproximando diferentes áreas do conhecimento e ampliando o diálogo com comunidades indígenas, instituições culturais e centros de pesquisa nacionais e internacionais. O projeto TAPE inaugura essa programação e estabelece um marco contemporâneo e decolonial para a revisitação dessa história.