Na última nsegunda-feira, 19 de maio, a Universidade recebeu no Teatro Unisinos, no campus de Porto Alegre, o piauí na universidade, que promoveu encontro entre integrantes da equipe da renomada revista paulista com universitários e professores de diferentes instituições da região, além de profissionais da comunicação. O evento integrou a Semana Acadêmica do curso de Jornalismo da Unisinos.
Estavam presentes Amanda Gorziza (repórter), André Petry (diretor de redação), Daniel Bergamasco (editor-executivo), João Moreira Salles (fundador da revista), Marcella Ramos (coordenadora de checagem) e Tiago Coelho (repórter).
A piauí é uma revista mensal brasileira de jornalismo que publica reportagens, críticas, ensaios, ficção, sátiras, charges e poesia. Idealizada pelo documentarista e produtor de cinema João Moreira Salles, foi lançada em outubro de 2006. A revista foi criada com o objetivo de contar histórias, apuradas com tempo largo.
Cobrir o Brasil que não é coberto
Salles e André Petry, logo no início do encontro, resgataram a história da piauí e suas principais colunas. Salles contou que em 2006 não existia uma revista que dedicasse mais tempo ao repórter para apurar e mais espaço para os jornalistas redigirem o que foi obtido durante o trabalho de reportagem. Segundo ele, só havia opções internacionais sobre o assunto.
“A piauí surgiu como uma revista maleável, e não sólida, sem editorias fixas. Desse modo, não existiria repórter especialista em nenhuma área”, contou o fundador. “O jornalista da piauí tem que ser suficientemente curioso para poder pular de praia em praia.”
A dupla aproveitou para saciar uma das principais dúvidas dos leitores sobre a revista: por que ela se chama piauí? Salles explicou que um dos grandes motivos era evitar o eixo de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “Assim, já indicava no nome a missão de cobrir o Brasil que não é coberto”, completa.

Salles e Petry exibiram várias edições para mostrar a evolução dela com o tempo. No telão, chamava a atenção as icônicas capas da revista. Uma delas, a da edição 126, publicada em março de 2017, exibia uma estante com muitos livros famosos da literatura, todos de “autoria” de Alexandre de Moraes. Na época, o ministro do Supremo Tribunal Federal havia sido acusado de plágio, e a capa parodiava o fato.
Também explicaram detalhes de algumas das editorias (seções) mais conhecidas: “Chegada”, que posteriormente se tornaria “Questões Vultosas”, “Despedidas” e “Esquinas”. A Chegada, aliás, tem uma história curiosa. Uma das reportagens de grande repercussão, sobre a morte do criador do bambolê, havia sido planejada para a editoria “Despedida”, mas virou “Chegada”. “A matéria falava que Richard Knerr chegou ao paraíso. Então, optamos por esse foco”, revelou Salles, que redigiu o material publicado em 2008.

Checagem e reportagem em destaque
A coordenadora de checagem da piauí, Marcella Ramos, mostrou como é feito esse processo na revista. Ela explicou que a checagem é um processo que entrou no meio jornalístico no início do século XX, quando a atividade começou a ser profissionalizada. Nos tempos de hoje, é uma tarefa de grande importância. “O checador, depois do repórter e do editor, é a primeira pessoa que vai ler aquele texto, que vai ter um olhar fresco. Isso ajuda, naturalmente, a ver o material com um pouco mais de dúvida”, enfatizou Ramos.
A jornalista demonstrou no telão anotações, organização e como funcionava o passo a passo para descobrir e checar informações. Por ser um trabalho realizado nos bastidores, muitas pessoas não sabem que algumas publicações possuem um profissional especialmente dedicado à essa atividade. É o caso do estudante Pedro Curi, que assistia à palestra com ares de curiosidade. “Nunca tinha tido contado com checagem da maneira que foi mostrada. Se tornou algo de muito interesse para mim”, sublinhou o aluno de Jornalismo da Unisinos.

No palco, o editor executivo da revista, Daniel Bergamasco, conversou com os repórteres Tiago Coelho e Amanda Gorziza. Ambos entraram na piauí como estagiários, e produziram na revista suas principais matérias da carreira até agora. Para Gorziza, uma delas é “Tem um vice nessa foto”, publicada em outubro de 2024. “Não trata sobre a vitória do prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e sim sobre o caso do seu vice, Eduardo Cavaliere, que parecia se ‘esconder’ da mídia”, lembrou a jornalista.
Coelho comentou sobre “Capitães da areia”, matéria publicada em outubro de 2015, em que narra sua experiência em um ônibus que percorreu a linha 474, saindo do bairro Jacaré, no subúrbio do Rio de Janeiro, até a Zona Sul da capital. O repórter contou que a mídia costumava mostrar esse trajeto “perigoso” apenas de helicóptero, e que teve a ideia de contar como é pelo lado de dentro. “Aprendi com a piauí que, se vamos cobrir algo que todos já estão falando, temos que fazer por um ponto de vista diferente”, disse.

O melhor jornalismo do Brasil
Na plateia, alunos assistiam atentamente a palestra. Entre eles, Bárbara Neves, que estuda Jornalismo na Unisinos. Para ela, a participação do repórter Tiago Coelho foi muito interessante. “Ele parece uma pessoa super próxima, o que faz com que possamos pensar que um dia poderemos estar ao seu lado também trabalhando na revista”, comentou.
Pedro Curi, que além de ter se mostrado particularmente interessado por checagem de informações, revelou que já é assinante da edição digital da piauí há quase três anos, desde que entrou na faculdade. “Quando conheci a revista de forma mais aprofundada, se tornou uma das minhas maiores fontes de informação e de pesquisa quando o assunto é contar histórias.”
A professora de Jornalismo da Unisinos, Mariana Oselame também comemorou ter a piauí na Semana Acadêmica. “Foi uma oportunidade única de ter contato e de estar próximo a pessoas que fazem hoje o melhor jornalismo do Brasil”, ressaltou.
A equipe da piauí aproveitou para divulgar o concurso “Repórter piauí – Porto Alegre”, voltado a estudantes de Jornalismo que participaram do evento na Unisinos. O desafio é escrever um texto, que pode ser perfil ou reportagem de qualquer editoria, que se encaixe no tema “Enchentes gaúchas, um ano depois”. O texto deve ter entre 5 mil e 12 mil caracteres.
O vencedor ganhará uma viagem para a próxima edição do Festival Internacional piauí de Jornalismo, que acontecerá em São Paulo nos dias 6 e 7 de setembro deste ano. Além das passagens aéreas, hospedagem e ingresso, o estudante receberá como prêmio R$ 2 mil. Mais informações sobre o concurso podem ser encontradas aqui.
Muito mais do que uma revista
A decana da Escola da Indústria Criativa, Laura Dalla Zen, participou da solenidade de abertura do evento, junto com o coordenador do curso de Jornalismo, Felipe Boff. Laura observou a ligação entre as formas de atuação da piauí e Unisinos. “Nossa sala de aula é o mundo. Esse posicionamento significa confrontar aquele mundo que não queremos, não desejamos e com o qual não compactuamos”, salientou. “Porém, o posicionamento significa, principalmente, apresentar aos estudantes o mundo em que a universidade acredita, luta. E no contexto jornalístico, a revista piauí faz parte desse mundo.”
Felipe Boff explicou que a presença da piauí foi resultado de uma ideia antiga, amadurecida ao longo de cinco meses. O professor disse que, por ser um dos veículos mais importantes do jornalismo brasileiro, a revista foi convidada a participar da Semana Acadêmica. “Eles assumiram um papel muito maior do que o de uma revista mensal, principalmente pelo trabalho que têm feito na mídia digital”, avaliou o coordenador.
