História, verdade e ética em debate na Unisinos

As complexidades contemporâneas nos colocam todos a todo o tempo em crise. Nesse sentido, valores e conceitos, que na modernidade eram delineados de maneira clara e objetiva, são impactados pelos contornos que o século XXI nos oferece e, até certa medida, nos impõe. Afinal, como se relacionam “história”, “verdade” e “ética”? Em busca não de apresentar respostas a tais desafios, mas de ampliar o debate sobre o tema, será realizado, entre os dias 11 e 14 de agosto de 2014, na Unisinos, o XII Encontro Estadual de História da Associação Nacional de História – Seção Rio Grande do Sul – ANPUH-RS.

Crédito: Rodrigo W. Blum

O papel dos historiadores está em permanente construção, afinal, a própria história não é um dado que ocorreu no passado e que é interpretado infinitamente do mesmo modo, mas é vivo dinâmico, muda conforme mudamos. Trata-se muito mais de uma alegoria de eventos acontecidos do que de um símbolo fechado em suas interpretações. “É a inserção cultural no presente que condiciona a interpretação do passado. E é justamente o diálogo com a cultura contemporânea que marca o trabalho dos historiadores”, pontua Marluza Marques Harres, presidenta da ANPUH-RS e professora doutora da Unisinos.

Estão previstas muitas atividades ao longo dos quatro dias de encontro, considerando os minicursos, mesas-redondas, simpósios temáticos, lançamento de livros e conferências. De acordo com Marluza, a média dos últimos encontros estaduais da organização contou com a participação de aproximadamente 800 pessoas. “No Rio Grande do Sul, a ANPUH tem tido muita expressão e tem conseguido congregar muitos historiadores, especialmente, nos eventos. Por exemplo, conseguimos reunir quase a totalidade dos alunos da pós-graduação em diferentes eixos de atuação e debate”, explica Marluza.

Evento

Considerando todo o RS, são mais de 22 cursos de graduação funcionando pelo estado e mais de 14 cursos de pós-graduação, incluindo mestrados profissionais, mestrados acadêmicos e doutorados. Diante de tal contexto, fica simples de compreender a pluralidade de vozes que compõem toda a teia de pesquisadores em História, divididos em 26 subáreas, que são, atualmente, os grupos de trabalho (GTs) organizados na ANPUH-RS.

A tarefa empreendida para o encontro, no entanto, não é fácil. Isso porque pensar os fazeres e a própria condição dos historiadores não é algo simples. Para além dos desafios específicos da área, a sociedade está enfrentando uma revolução tecnológica que coloca ideias seculares que balizaram a compreensão do mundo em causa. “Os princípios epistêmicos que tradicionalmente embasavam o trabalho historiográfico estão sendo questionados e, muito lentamente, estão surgindo novas inspirações em diálogo com a cultura contemporânea, mas estamos experimentando, tateando…”, reflete Marluza.

Novos desafios

A institucionalização da História como disciplina ocorreu no contexto do século XIX e a autonomia na formação profissional foi uma longa conquista. A história oficial, os nacionalismos e os interesses dos Estados sempre foram um fardo na formação dos historiadores. Pensa-se principalmente frente à necessidade de um discurso oficial, preso a uma interpretação do passado conveniente para determinados projetos de sociedades tipicamente modernos. O exercício crítico e a renovação permanente fizeram avançar o campo do conhecimento historiográfico ao longo do século XX, conseguindo ampliar significativamente a contribuição potencial que a perspectiva da história pode proporcionar à reflexão e compreensão da dinâmica social em suas diversas temporalidades. O século XXI, porém, trouxe, além da falência das grandes narrativas, uma relativização — diferente de relativismo — da ciência histórica capaz de fazer emergir modos de compreensão dos eventos passados compatíveis com nosso tempo. Muitos são os desafios, mas métodos, perspectivas e campos novos estão se multiplicando e enriquecendo o fazer historiográfico. O XII Encontro da ANPUH-RS se propõe a ser um espaço de diálogo e construção permanente da disciplina e dos historiadores. Ao longo de quatro dias, a Unisinos será o palco de intensas discussões, que buscam desde uma visada política e intelectual, objetivando debates sobre a verdade e a ética no presente, ainda que os desafios permaneçam às gerações futuras.

ANPUH-RS

Desde 1979, a ANPUH-RS tem atuado no estado debatendo questões relacionadas à área da História. Em 1995 a entidade passou por um processo de reestruturação e segue em ampla atividade até hoje.  Tornou-se uma das Seções Regionais com maior número de associados em todo o Brasil. “Além do estímulo ao trabalho acadêmico, a ANPUH-RS sempre assumiu compromissos políticos, como a defesa da qualidade do ensino, a preservação dos arquivos e acervos históricos, a ampliação e preservação dos espaços culturais de nossas cidades. Para tanto, buscou sempre manter diálogo com as Secretarias de municípios e de governos do estado”, descreve Marluza.

Em 2008 a entidade adquiriu uma sala no centro de Porto Alegre – RS, onde funciona o gabinete da administração da Associação. Espaço que também abriga um pequeno auditório, usado, especialmente, pelos Grupos de Trabalho (GTs) como local de estudos, apresentação e discussão de trabalhos e reuniões administrativas.  Além disso, há 10 anos a associação deu iniciativa a um empreendimento ousado, resultado não só de uma vontade coletiva, mas também de uma boa administração gestora, denominado Coleção ANPUH-RS. Trata-se de um concurso para premiar dissertações e teses e que tem um edital lançado a cada gestão da ANPUH-RS. Já está publicando o nono volume impresso da Coleção e abrindo um novo formato de publicações em e-books para divulgar os trabalhos que recebem Menção Honrosa.

ANPUH Nacional

A origem da entidade em âmbito nacional foi no ano de 1961, na cidade de Marília, em São Paulo, que surgiu com o nome de Associação Nacional dos Professores Universitários de História, ANPUH. A entidade trazia na sua fundação a aspiração da profissionalização do ensino e da pesquisa na área de História, opondo-se de certa forma à tradição de uma historiografia não acadêmica e autodidata ainda amplamente majoritária à época.

Atuando desde seu aparecimento no ambiente profissional da graduação e da pós-graduação em História, a ANPUH foi aos poucos ampliando sua base de associados, passando a incluir professores dos ensinos fundamental e médio e, mais recentemente, profissionais atuantes nos arquivos públicos e privados, assim como em instituições de patrimônio e memória espalhadas por todo o país. O quadro atual de associados da ANPUH reflete a diversidade de espaços de trabalho hoje ocupados pelos historiadores em nossa sociedade. A abertura da entidade ao conjunto dos profissionais de História levou também à mudança do nome que, a partir de 1993, passou a se chamar Associação Nacional de História, preservando-se, contudo, o acrônimo que a identifica há mais de 40 anos.

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