Conhecimento como motor de transformação

Aos 60 anos, Justina de Oliveira cursa o 7º semestre de Direito e é uma das estagiárias do projeto de apoio às Famílias Superendividadas

Crédito: Getty Images

O Direito, além de normas e leis, pode ser um operador de mudanças sociais. Os impactos do conhecimento jurídico, aplicado socialmente, são capazes de alterar a vida de grupos inteiros, e também modificar profundamente seus agentes, que buscam, mesmo na “letra fria da lei”, um espaço para praticar a empatia.

Mas como exercitar a escuta e o acolhimento em um ambiente tão formal? Aos 60 anos, Justina Fátima de Oliveira, estudante do 7º semestre de Direito e estagiária do projeto de Apoio às Famílias Superendividadas, se emociona ao contar como a aliança entre teoria e prática, e a experiência no projeto social, mudaram sua forma de ver a vida e, principalmente, o Direito: “Eu costumo dizer que nós conhecemos verdadeiramente o que são os Direitos Humanos na prática. As pessoas atendidas pelo projeto estão em uma situação bem vulnerável. É uma vulnerabilidade que, muitas vezes, não percebemos, pois vivemos em núcleos e não nos damos conta do restante do município. Após participar do projeto, eu comecei a viver de forma diferente e a ver de outra maneira o Direito”, relata.

O projeto em que Justina atua existe há 10 anos e busca, por meio extrajudicial, realizar acordos entre pessoas endividadas e os credores que aceitam participar das audiências. Mais do que isso, a iniciativa faz um atendimento completo, do acolhimento ao acompanhamento após a negociação, em um trabalho interdisciplinar com estudantes de diversas áreas além do Direito, como da Psicologia e do Serviço Social. Tudo para atender, da melhor forma, as pessoas que buscam ajuda, entendendo suas necessidades e encaminhando para órgãos ou iniciativas específicas, quando necessário. O objetivo é que a pessoa aprenda a lidar com sua situação financeira de modo geral, e que haja uma reflexão sobre o endividamento.

Para a professora Maria Alice Rodrigues, que coordena o projeto, participar da iniciativa traz uma série de benefícios para os estudantes: “Um deles é perceber que existem outras formas de solução de conflitos que não a judicial, litigiosa. Como são atendidas pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, eles também aprendem com as diferentes realidades de quem procura o projeto. Como o acolhimento é feito por todos os profissionais que participam, fica mais claro para os estudantes a possibilidade e a riqueza que é esse atendimento conjunto e interdisciplinar”, enfatiza.

Para Justina, a ação é uma oportunidade de colocar em prática os ensinamentos teóricos das aulas. Mas, mais do que isso, a experiência trouxe aprendizados que a transformaram. “No projeto, a gente percebe o quanto a pessoa precisa de uma mão estendida. Às vezes, eles só querem falar da sua situação, serem ouvidos. E nós, precisamos aprender a ouvir. Além disso, o nosso grupo, formado por estudantes que têm pensamentos e formações diferentes, propicia que pensemos coletivamente, dividindo as experiências. Isso amplia os pontos de vista, a gente sai mais humana”, destaca.

Para a estudante, uma das maiores alegrias é ver um acordo bem-sucedido: “No momento que a audiência deu certo e que os vemos felizes, com o brilho no olhar, isso é incrível. É uma gratificação imensa”. Emocionada, ao falar de sua experiência, Justina finaliza com os olhos marejados: “Esse projeto foi a melhor coisa que me aconteceu. Poder ajudar é muito gratificante. Se tu não puder ajudar, o teu conhecimento não valeu a pena”, encerra.

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