A publicidade do pós-pandemia

O que o mercado publicitário quer de um novo profissional e como a graduação está se mantendo atualizada

Crédito: Divulgação

O mercado da comunicação é dinâmico. Em uma corrida conjunta às inovações tecnológicas, a Publicidade está em constante diálogo com as efervescências culturais e as tendências de comportamento do consumidor. Com a explosão do acesso ao entretenimento e às compras online durante a pandemia, algumas particularidades foram sendo mapeadas, como o aumento do uso de tecnologias de automação e a preferência do público por marcas que expressam os seus valores. Será que já deu tempo de trazer estas transformações para os estudantes de publicidade e propaganda?

A coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Unisinos, Anaís Schüler Bertoni, entende que sim. Ela explica que desde o início do currículo da Graduação PRO, em 2019, a Unisinos busca trabalhar a formação a partir de competências estratégicas para o profissional do século XXI, dentre elas “o empreendedorismo, a ética, o propósito pessoal e profissional e o olhar social”. Anaís comenta ainda sobre cadeiras específicas, como a “Tópicos Emergentes de Publicidade em Contextos Digitais”, que trata sobre inteligência artificial, realidade aumentada e virtual, entre outros temas da tecnologia relacionada à publicidade.

O e-commerce cresceu 10 anos em três meses: marketing digital virou ferramenta indispensável

Com as medidas de distanciamento social, ainda no início de 2020, os e-commerces tiveram picos de acesso e vendas. Em pesquisa realizada pela Neotrust/Compre&Confie, é estimado que, entre abril e junho, 5,7 milhões de brasileiros fizeram a primeira compra online. O mês de abril teve 81% de aumento no faturamento dos e-commerces nacionais em relação ao ano anterior, sendo 98% de aumento no número de pedidos. Segundo dados do Bank of America, o e-commerce cresceu o equivalente a 10 anos em três meses, ao redor do mundo – ou seja, passou de um crescimento de 16% em uma década para 33% somente no primeiro trimestre de 2020.

Por estarem em ambiente virtual, uma das estratégias-chave para os e-commerces é a divulgação nas plataformas mais acessadas do mundo: as redes sociais. O marketing digital é uma forma de publicidade relativamente nova, dinâmica, baseada em ferramentas de análise de métricas, campanhas direcionadas para públicos de nicho e, muitas vezes, produção de conteúdo de entretenimento ou informação. Uma pesquisa de tendências da publicidade no varejo em 2020 feita pelas empresas Smartly.io e a WBR Insights apontou que, das empresas consultadas, 96% pretendiam aumentar o investimento feito em anúncios no Facebook, 61% no LinkedIn e 56% no Twitter.

Ao mesmo tempo, é estimado um corte global de 8,1% nos investimentos em publicidade, segundo pesquisa do World Advertising Research Center. Essa variação representa cerca de 50 bilhões de dólares a menos. Em meio a isso, as plataformas de vídeo, de busca, e as redes sociais são os únicos meios com previsão de crescimento no ano.

Publicitário, egresso da Unisinos diz que é preciso unir tecnologia, estratégia e criatividade

Saul Scheid, 38, é publicitário e sócio fundador da Agência Escape de Novo Hamburgo. Ele conta que, em 2004, a Escape se tornou a primeira agência de publicidade certificada pela Google no Vale dos Sinos. Ele e o sócio, Maicon Fuhr, receberam críticas sobre a ideia de ter uma agência onde o digital estava integrado ao offline. “As pessoas perguntavam: vocês são loucos?”, brinca.

Crédito: Arquivo Pessoal – Para Saul Scheid, o publicitário hoje precisa entender de negócios

Para ele, o marketing é uma ferramenta de transformação. Formado pela Unisinos, Scheid iniciou o curso em 1999 e trabalhou durante dois anos em uma pequena agência de Estância Velha. Com desejo de empreender, acabou por trancar o curso para investir na própria agência. Foi se formar apenas esse ano, em 2020. Sobre o papel da universidade em sua formação, Scheid acredita que muito se aproveitou, mas, ainda assim, a maior contribuição de todas foram as conexões que ele fez durante a graduação. Nesse tempo, o mundo da publicidade mudou completamente. “O conhecimento do currículo, em si, virou de ponta cabeça cinquenta vezes”, comenta.

Saber fazer boas fotos e um bom design, segundo ele, é o mínimo. Existe a necessidade de competências que vão além do que era o escopo do profissional de publicidade antes: “Hoje, qualquer profissional de comunicação precisa entender de negócios”, afirma. O trabalho do publicitário vai mais a fundo na empresa cliente. “É preciso investir tempo para entender o negócio, o cliente e então chegar na estratégia”, explica, “ao falar com o empresário, ele vai te fazer a seguinte pergunta: ‘como tu vai me fazer ganhar mais dinheiro?’. Isso é o diferencial”.

Scheid defende que o trabalho do publicitário está convergindo para o pensamento estratégico e a visão integrada da comunicação com os negócios. O papel da agência de publicidade, segundo Scheid, passa a ser o de organizar grupos de profissionais de diferentes especialidades para atender aos projetos. “O ‘buffet livre’ de serviços, onde se pagava um fee mensal e se tinha um cronograma de trabalho do ano todo, está morto e enterrado”.

O trabalho está cada vez mais personalizado e novos termos passam a integrar o vocabulário do marketing: “Hoje o que mais cresce são ferramentas de automação, Inteligência Artificial, tecnologia, serviço de atendimento ao consumidor, UX, jornada do cliente – digital e offline. Qualquer um que trabalha no marketing precisa entender destes temas”. Com a união da tecnologia, estratégia e criatividade, Scheid afirma com segurança: “temos nas nossas mãos as ferramentas de transformação do mercado”.

O que já era tendência se consolidou na pandemia: as marcas precisam ter propósito

Gustavo Lacerda, VP de Criatividade da Associação Riograndense de Propaganda (ARP), ressalta outra forma de transformação: “Existe um movimento entre as marcas de mostrarem mais propósito e impacto positivo”, aponta. As empresas passam a se posicionar sobre temas sociais, como a diversidade sexual, de gênero e o movimento Black Lives Matter. As mudanças culturais e de comportamento do consumidor são contempladas pelas produções publicitárias – e por isso, o profissional da publicidade precisa de um repertório mais amplo. “É preciso entender a comunicação como uma área conectada à cultura, às questões sociais, às artes e fazer esse trânsito”, explica, “Tem que conseguir cruzar os campos”.

Crédito: Arquivo Pessoal – Gustavo Lacerda entende que os produtos precisam ser apenas meios para um propósito

Há uma maior conexão dos clientes com as marcas por meio dos valores, e o marketing precisa aproveitar isso de forma ética, diz Lacerda: “as pessoas não querem ser enganadas, se eu digo que a marca é inclusiva, ela precisa ser de dentro pra fora”. Assim, a marca não é relevante apenas pelo produto que vende. Ele relembra uma frase que ouviu certa vez: “Cada compra é um voto”, e complementa, “Quando eu compro de uma marca, assino embaixo tudo o que ela representa”.

A experiência começa na Graduação em Publicidade e Propaganda

Andrei Krummenauer, 23, é aluno do curso de graduação em Publicidade e Propaganda da Unisinos e atua como freelancer. Iniciou a graduação em 2017 e teve a primeira experiência de trabalho logo no ano seguinte, em um estágio não obrigatório na Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) – uma agência de comunicação universitária que oportuniza estágio para diversos cursos da Indústria Criativa. Além desse espaço, ele pode ver o curso abrir ainda mais portas para os alunos nos últimos anos.

Crédito: Arquivo Pessoal – A graduação forneceu as bases estéticas e críticas para o trabalho que Andrei faz hoje

“Hoje existem diversas oportunidades de entrarmos em contato com o mercado de trabalho”, conta. Apesar de não haver estágio obrigatório previsto no currículo, essas oportunidades que Andrei refere se traduzem em atividades complementares que o curso de Publicidade e Propaganda promove. São palestras, workshops e atividades curriculares em parceria com empresas de diferentes tamanhos e áreas de atuação. Andrei participou (e foi da equipe vencedora) do workshop da marca de calçados Aly554, em 2019, que rendeu uma campanha veiculada em revista. Para ele, a graduação forneceu as bases estéticas e críticas para o trabalho como publicitário.

A coordenadora do curso de PP, Anaís Schüler Bertoni, concorda com o estudante. Ela entende que um dos propósitos da graduação é que o aluno crie uma rede de contatos para a inserção profissional – além de um portfólio sólido. Mas relembra que é preciso interesse e participação do aluno.

Crédito: Divulgação Unisinos – A coordenadora de curso Anaís Schüler Bertoni afirma que a graduação está em constante diálogo com o mercado de trabalho

“O lado cultural e artístico é essencial para os profissionais da Escola. Temos muitas cadeiras que incentivam esta reflexão, como a de ‘Tecnologias, Imaginários e Estéticas’ e a de ‘Publicidade e Interações Culturais’”, explica. Assim como Gustavo Lacerda, da ARP, Anaís defende que a Publicidade precisa de profissionais que “articulem questões éticas, sociais, humanas, tecnológicas e culturais como parte de seu repertório”.

Por fim, a coordenadora comenta que, além das interações institucionais com empresas e profissionais de publicidade por meio das atividades complementares, muitos professores da Unisinos possuem empresas ou atuam no mercado fora da universidade. Essa é mais uma forma de contato que mantém as disciplinas da graduação conectadas às mudanças da profissão.

Para 2021, os eventos ainda não possuem datas divulgadas. Anaís enfatiza que todos podem acompanhar as novidades do curso através dos canais da Unisinos, ou pelas redes sociais, no Facebook ou no Instagram.

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