Esta Tese teve como problemática central compreender como se engendram os processos de subjetivação dos sujeitos que se reconhecem como negros no Brasil contemporâneo e de que modos estas subjetividades contribuem para pensar a educação das relações étnico-raciais. A pesquisa teve como inspiração a perspectiva pós-estruturalista, articulando-se a partir do campo dos Estudos Foucaultianos, das Relações Raciais e da Educação. O fortalecimento da negritude brasileira, evidenciada a partir de 1970, permitiu que ela fosse entendida como uma matriz de experiência, com base no esquema analítico de Foucault. A matriz de experiência da negritude é composta por três eixos: o eixo dos saberes que funcionam como verdades, dos poderes que governam a população negra e o eixo da subjetivação/ética, que permite que os sujeitos negros governem a si mesmos a partir da relação com as verdades da negritude, consigo e com os outros. Para compreender o eixo da subjetivação, foram analisadas 36 narrativas autobiográficas produzidas e publicadas por mulheres negras no blog Blogueiras Negras, entre os anos de 2013 a 2016. Nesta pesquisa, as noções de discurso e de escrita de si operaram como ferramentas teórico-metodológicas. O Blogueiras Negras funciona como um potente espaço educativo, tanto pelo governamento dos modos de constituir-se mulher negra, quanto por acionar a aprendizagem permanente dos sujeitos que estão em contato com o blog, incluindo a gestão dos afetos e a luta contra a discriminação racial. Além da descrição e da análise do processo de subjetivação identitário e do ressentimento racial, escola e docência foram problematizadas a partir das narrativas selecionadas, o que permitiu pensar sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais. Deste modo, defende-se a tese de que o processo de subjetivação identitário, vivenciado pelos sujeitos que fazem parte da matriz de experiência da negritude, tem como um dos seus principais efeitos a expressão do ressentimento racial. O ressentimento coloca as relações raciais em tensionamento e pode ser canalizado para a luta política e a transformação ética. Na medida em que a docência for constituída pelo compromisso com uma educação antirracista e pelas dimensões ética, estética e política, a escola pode vir a desenvolver processos de in/exclusão menos violentos e relações raciais que resultem, sobretudo, em subjetividades singulares.

  • Autor(a): Viviane Inês Weschenfelder

  • Co-autor(a): Elí Terezinha Henn Fabris