A noite da última terça-feira, 23, foi marcada por um importante debate sobre a relação entre crianças e a natureza. Educadores da rede de ensino de Canoas/RS se reuniram no campus da Unisinos, em São Leopoldo, para o workshop “Parques Naturalizados: Coconstruindo Encontros entre a Criança e a Natureza”. O evento, que faz parte do projeto “Educar para Crescer: uma abordagem transversal entre direitos humanos, inovação e sustentabilidade”, teve como objetivo principal ouvir a perspectiva dos professores para a criação de um parque naturalizado no bairro São José, ao lado da Escola Municipal de Ensino Fundamental Leonel de Moura Brizola.

O workshop propôs uma discussão aprofundada sobre a importância do contato com a natureza na infância, não apenas em espaços verdes, mas também dentro do ambiente escolar e em outros locais urbanos. A iniciativa busca resgatar uma conexão que, segundo os participantes, tem se perdido ao longo dos anos.
O resgate do contato com a natureza na infância
Aline Kieling, diretora da EMEI Bem me Quer, em Canoas, expressou sua preocupação com o distanciamento das crianças do ambiente natural. “Eu sempre achei que isso é muito importante até em função das crianças estarem ultimamente cercadas de paredes e calçadas”, afirmou. Ela ressaltou a importância de que a escola e as famílias compreendam a necessidade desse contato. “Na minha infância a gente dormia no pátio de casa então a gente tinha muito esse contato. Meus filhos tiveram bastante contato com a natureza, mas parece que de uns 10, 15 anos para cá isso foi se perdendo.”
Para Aline, o papel da escola é fundamental para resgatar essa vivência. “Que a gente consiga fazer as famílias entenderem que isso é de extrema importância”, pontuou a diretora, que se mostrou otimista com a receptividade de sua equipe em relação ao tema.
A coconstrução como base do projeto
Ana Carol Thomé, mestranda em Educação e uma das ministrantes do workshop, destacou a importância da participação dos professores na construção do parque naturalizado. “É uma das bases do parque que ele seja construído pelos múltiplos agentes que podem ocupá-lo”, explicou. “Não é simplesmente chegar e entregar um espaço, mas elas [as professoras] estão participando de tudo.”

A participação ativa da comunidade educadora cria um vínculo essencial com o projeto. “O que foi construído aqui teve a escuta delas, elas estão presentes em cada parte desse projeto que foi feito”, afirmou Ana Carol. Segundo ela, essa apropriação desde a concepção aumenta significativamente as chances de que o espaço seja utilizado pelas crianças no futuro. “Se eu participei desse processo, a chance de eu querer ocupar esse espaço com as crianças é muito maior.”
Múltiplos olhares para um espaço coletivo
Para Paulo Fochi, pedagogo, doutor em Educação e professor da Unisinos, o workshop teve um duplo papel. Como coordenador do subprojeto Brincar do Educar para Crescer, ele enfatizou a necessidade de escutar diferentes vozes para a criação do parque. “Uma das ideias importantes do parque, além de ter essa relação de respeito com o entorno, com a ecologia, é também escutar diferentes vozes que podem habitar aquele espaço”, disse.
A participação dos professores é crucial por estarem em contato direto com a “cultura infantil” e a realidade das crianças. “É escutar o ponto de vista dos professores que estão ali com as crianças e sabem da cultura infantil, como que a gente pode traduzir para o parque”, destacou Fochi. Além disso, o workshop busca inspirar os educadores a levarem esse conhecimento para suas próprias escolas. “Fazer com que, para além do parque, eles migrem esse saber para dentro de cada uma das escolas que eles fazem parte e poder ali também pensar a relação da criança com a natureza”.
A troca de ideias e a coleta de diferentes perspectivas são o que, segundo Paulo, farão o projeto crescer. “É importante para escutar as vozes, é importante para criar uma consciência coletiva e ter pontos de vistas diversos que é o que vai fazer esse parque crescer”, finaliza Fochi.