Avanços da ciência em busca de soluções para doenças crônicas

Pesquisadores europeus e brasileiros compartilharam suas pesquisas em evento na Unitec, nos dias 26 e 27 de setembro

Crédito: Roberto Caloni

O segundo dia do II International Summit in Nutrition, Health and Nutraceuticals reuniu muito conhecimento, de diferentes perspectivas, mas com o mesmo intuito: aprimorar a ciência para trazer mais qualidade de vida para as pessoas. O evento ocorreu nos dias 26 e 27 de setembro, no Auditório da Unitec.

A coordenadora da atividade, Denize Ziegler, destacou a importância do compartilhamento da ciência. “Ninguém faz pesquisa sozinho, faz-se pesquisa em rede”. A ideia é tornar o evento bianual, para que se possa promover o relacionamento com universidades internacionais e disseminar ciência de última geração.

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Confira um pouco do que rolou no segundo dia de evento.

Novas gerações de probióticos

Armin Tarrah, pesquisador da Universidade de Pádua, palestrou sobre como avaliar novas gerações de probióticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os probióticos são “organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”. O pesquisador enfatizou que os probióticos são muito importantes para a saúde, principalmente na prevenção de doenças.

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A proliferação de bactérias ruins para o nosso organismo acontece com facilidade, segundo Armin. Ele lembra que tratamentos antibióticos, sem acompanhamento médico, podem matar as bactérias boas. Além deles, dietas com baixo teor de fibras, alimentos muito processados e estresse. “Nós temos bastantes bactérias em nosso organismo. Muitas delas são boas, e outras tantas são ruins. Precisamos fazer com que as boas combatam as ruins”, diz.

O pesquisador cita, a título de exemplo, que 60% das pessoas no mundo têm a Helicobacter pylori alojada no estômago ou intestino, uma bactéria que prejudica a barreira de proteção e é causadora de inflamações na região, o que aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de cólon. O alto índice de pessoas com essa bactéria está associado ao fato de ela ser crônica.

Probióticos reduzem a concentração de enzimas, sais biliares secundários e absorção de mutações nocivas, que podem gerar tal câncer. Identificou-se nas pesquisas que todos os probióticos irão atuar efetivamente, se ingeridos depois de refeições, quando o nível de ácido gástrico está baixo. “Ainda não podemos colocar essas bactérias no prato, temos que introduzi-las nos alimentos; a saída é a regulamentação de probióticos com especificações para cada finalidade”, conclui.

Dieta e microbiota

A professora e pesquisadora no itt Nutrifor, Laura Nunes, na mesma linha de raciocínio de Armin Tarrah, destacou que o uso de probióticos não pode ser generalizado a todos os perfis. Segundo a pesquisadora, os estudos na área estão sendo ampliados, principalmente pelo avanço da tecnologia, justamente para entender o que seria uma microbiota saudável. “Existem em torno de 120 espécies de lactobacilos e menos de 30 são cultivadas em laboratório. Isso é um problema, é um número muito reduzido, impossibilita o avanço de pesquisas”, afirma Laura.

Crédito: Roberto Caloni

O trabalho realizado por Laura, em parceria com os professores Juliano Garavaglia e Denize Ziegler, no itt Nutrifor, tem por objetivo medir a estrutura e a dinâmica das comunidades microbianas, as relações entre esses membros, a produção e o consumo de substâncias, a interação com hospedeiros e as diferenças entre saúde e doenças bacterianas. Os desafios e as perspectivas para a área ainda permanecem na questão de entender as particularidades dos microbiomas e como podem afetar cada indivíduo. “Se soubermos quais os probióticos uma pessoa precisa e os possíveis tratamentos que eu devo receitar a ela, iremos direto ao foco do problema”, enfatiza.

Uma conversa cruzada

Interdisciplinarmente, a professora e decana da Escola de Saúde e pesquisadora do itt Nutrifor, Denize Ziegler, contribui com o olhar da bioquímica e elucida aspectos do vínculo entre a microbiota e o cérebro. Segundo Denize, quase todas as doenças que enfrentamos hoje têm relação com a microbiota, como Parkinson e Alzheimer. “Todos os neurotransmissores que o cérebro produz, a microbiota também produz. Existe essa conversa cruzada”, explica.

Crédito: Roberto Caloni

De acordo com pesquisas, as doenças degenerativas não têm mais uma única causa. É uma sucessão de desequilíbrios que desencadeiam a enfermidade. Descobriu-se que a esquizofrenia, por exemplo, tem relação com as bactérias. Cita o exemplo, a partir de estudos na área: “Em um caso, foi dado muito antibiótico ao paciente, e ele entrou em surto psicótico. Então se descobriu que o surto psicótico era em função do antibiótico. Por algum motivo, ele tinha o auxílio dos neurotransmissores do intestino, que faziam seu papel, e, quando ele ficou sem esses neurotransmissores, ele teve o surto”, comenta.

Para Denize, um dos obstáculos a ser vencido é a falta de diálogo entre a psiquiatria e a microbiologia. “O problema dos antibióticos é que eles atacam um fator específico, desconsiderando o corpo harmonicamente”, diz. O ideal, segundo ela, seria manter esse diálogo, para modular o sistema nervoso com a presença de bactérias boas.

Alternativas para a Síndrome de Down

Ana Vellasco Criado, professora e pesquisadora da Universidade de Salamanca, falou sobre o efeito de diferentes polifenóis em pessoas com Síndrome de Down. “Uma das principais características da Síndrome de Down é o atraso no desenvolvimento do cérebro. A nossa pesquisa busca identificar se polifenóis, como ECGC, podem ajudar na prevenção dessa má formação cerebral”, salienta.

Crédito: Roberto Caloni

Conforme explica, o gene DYRK1A está localizado na região do cromossomo 21, da Síndrome de Down, e polifenóis como ECGC são inibidores desse gene. O que continua a se estudar é se o ácido oleico, que é um aliado no crescimento dos neurônios em condições cromossômicas normais, pode ser determinante também para o córtex trissômico. “A Síndrome de Down é uma alteração genética, não tem cura. Mas é possível suavizar os efeitos característicos da patologia”, afirma.

Novos caminhos da Nutracêutica

Regine Schneider-Stock, pesquisadora no Departamento de Patologia da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg, compartilhou suas pesquisas sobre compostos naturais com potencial anticancerígeno. No instituto de pesquisa, Regine analisa fenômenos em tumores e destacou que práticas medicinais atreladas a pesquisas científicas compõem tratamentos não tóxicos e altamente efetivos.

Segundo a pesquisadora, existem muitas soluções promissoras a serem encontradas na natureza. “São mais de 250.000 plantas que nunca foram investigadas”, observa. “E cerca de 50% de toda a medicina receitada para prevenir câncer, desde os anos 1940, derivam de produtos naturais”, completa.

Crédito: Roberto Caloni

Moléculas híbridas, feitas a partir das combinações de estruturas naturais, como Thymoquinone (TQ) e Artemisinin (Art), são os principais constitutivos ativos com efeitos promissores contra doenças inflamatórias e câncer. Segundo Regine, a TQ modula as vias de sinalização, que são fundamentais para a progressão do câncer, e aumenta o potencial anticancerígeno das drogas clínicas, além de reduzir efeitos colaterais tóxicos. Assim como a Art tem potencial contra a malária. O objetivo é seguir os estudos para encontrar soluções que mitiguem a progressão dessas doenças.

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