A arte como provocação para a educação

A arte como provocação para a educação

Foto: Roberto Caloni

O tema da formação cultural de professores vem ganhando destaque, em especial, na última década. Podemos atribuir isso a dois fatores distintos: em primeiro lugar, à centralidade que a cultura assumiu na contemporaneidade e, em segundo, à desvalorização da profissão docente e o atual perfil dos professores brasileiros, em sua maioria pertencentes às classes C e D.

Com essa declaração, Laura Habckost Dalla Zen, gerente dos Cursos de Licenciatura da Unisinos, ressalta a importância de se pensar em formas para melhorar o cenário da educação no país. “Nós, como universidade, nos detemos ao segundo ponto, nos comprometendo com a formação de professores. Na medida em que a escola é entendida como espaço de ampliação do universo cultural de seus alunos, inevitavelmente, o professor passa a ser agente nesse processo”, pontua.

Diante desse contexto, uma das ações desenvolvidas pela Universidade, que vai ao encontro das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores, é o Projeto Provocações.

A iniciativa, que começou no curso de Pedagogia em 2013, foi ampliada para todos os cursos em 2016. “Aos poucos, queremos institucionalizá-la como uma marca das nossas Licenciaturas”, explica.

Projeto Provocações

O Projeto Provocações é um espaço de interlocução entre arte, formação de professores e cultura. A coordenadora, professora Betina Guedes, explica que o objetivo é provocar, olhar, mobilizar, romper, estar em trânsito, repensar, subverter e viver com arte na universidade, repercutindo em uma docência pautada na criação e na pesquisa. “A programação desenvolvida a cada semestre é composta pelas atividades Conversa com artista, Em debate, Ciclo de Estudos, Workshops e Saída Cultural”, salienta.

Foto: Roberto Caloni

No dia 26 de abril, Mayra Martins Redin, doutoranda em Artes pela UERJ, esteve na Unisinos para a Conversa com artista. Na ocasião, Mayra falou sobre sua produção que, segundo ela, está baseada nas coisas indefinidas. “A comunicação fala muito do lugar comum. Quando a gente entra no campo da arte, temos que falar do indizível, daquilo que você não comunica, que tem a ver com o que é mais íntimo seu. É isso que faz a gente criar, o que te desloca e faz com que você procure formas de comunicar que vão além da palavra”, pondera.

De acordo com a artista, sua metodologia é justamente não ter metodologia. “Eu deixo fluir. Não deixo de ficar atenta ao que está se passando, mas deixo as coisas soltas para que elas possam voltar. Eu me interesso muito pelo que as pessoas pensam, o que elas sentem. São essas coisas que me motivam”, relata.

Para Mayra a memória é o que permanece, e o que permanece muitas vezes é o resto do que a pessoa viveu, que pode ser registrado em forma de imagem, escrita ou narrativa oral. “A memória é muito inconsciente. As vezes passa de geração em de geração e a criança é, por excelência, o ser que melhor trabalha todos os sentidos”, explica, ressaltando que os adultos têm mais dificuldade em relação a isso.

Segundo a artista, quando a criança ouve a voz da mãe é como se ela tivesse visto a mãe, enquanto um adulto quando ouve a mãe diz: eu ouvi a voz da minha mãe. “Todos os dias você recebe muitas informações que acabam não passando pelos sentidos e, por isso, não vive uma experiência real.  Praticamente todos os dias a gente vive só o consumo”, frisa.

De acordo com Mayra, isso deve ser trabalhado em sala de aula. “Para mim o aprendizado passa pelo desejo. Se a criança não tem uma relação subjetiva com o que está sendo vivenciado, aquilo na vai atravessar o corpo e será esquecido”, pondera, lembrando que, trabalhar a memória em sala de aula é trabalhar a vida de cada um. “É valorizar a experiência que cada um carrega dentro de si e isso, para mim, é um ponto chave para a educação”, completa.

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