A ciência como ferramenta de inclusão social

Minha Tese em 180” é uma das formas de popularizar estudos

“Ernest Rutherford, o celebre físico australiano-inglês, dizia que, se um físico não sabe explicar o que está fazendo para a sua própria avó, não entende o que está fazendo.” A citação é da professora da Unisinos Maria Eduarda Giering, que complementa: “Explicar [a pesquisa] com imagens e modelos simples é a missão do cientista preocupado com sua responsabilidade social e com a divulgação da ciência.” Em outras palavras, é uma ferramenta de inclusão.

Tornar a investigação científica mais palatável e popular é tema de interesse para o grupo de pesquisa Comunicação da Ciência: Estudos Linguísticos e Discursivos (CCELD), do qual Maria Eduarda faz parte. Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, o CCELD estuda os discursos acadêmico e de popularização da ciência, bem como as relações entre eles.

“A divulgação do conhecimento científico para o público em geral é vista, atualmente e cada vez mais, como uma ferramenta de inclusão na sociedade, na qual a comunicação é abordada como um instrumento não apenas de disseminação da informação, mas, sobretudo, para a formação de uma cultura científica.”

Maria Eduarda Giering, professora

Diz a professora que a comunicação da ciência costuma ser dirigida aos pares – cientistas com saberes e repertórios semelhantes – e que, por isso, é econômica nas explicações. Fora que tende a empregar uma linguagem “esotérica” e a circular em ambientes fechados, frequentados por um público restrito. Como resultado, acaba interessando a poucos.

Popularizar estudos, portanto, é uma forma de mudar essa realidade ao disseminar saberes e fomentar a cultura inclusiva. “A divulgação científica tem como um de seus objetivos tornar acessível o conhecimento superespecializado”, aponta Maria Eduarda. “Porém, é importante salientar que divulgar a ciência não significa fazer uma simples tradução, no sentido de verter uma língua em outra. Trata-se, na verdade, de criar uma ponte entre o mundo da ciência e outros mundos, como diz Sánches Mora, uma física mexicana que se dedica ao assunto. Daí a relação entre popularização da ciência e criatividade.”

Toda pesquisa pode ser popularizada

É o que afirma Maria Eduarda. Embora algumas chamem mais a atenção por estarem relacionadas a áreas de interesse com forte apelo, como saúde e astronomia, todas as pesquisas podem passar por esse processo. O cerne da popularização está justamente na emoção, no fazer sentir e no conectar-se com as vivências do público.

“A divulgação do conhecimento científico para o público em geral é vista, atualmente e cada vez mais, como uma ferramenta de inclusão na sociedade, na qual a comunicação é abordada como um instrumento não apenas de disseminação da informação, mas, sobretudo, para a formação de uma cultura científica”, conclui a professora.

E para popularizar o saber há várias instâncias. Maria Eduarda lista as seguintes: em espaços científico-culturais (museus e centros de ciência e tecnologia, bibliotecas, jardins botânicos, zoológicos e parques ambientais); em atividades públicas de popularização da ciência (feiras e olimpíadas científicas); e na mídia (canais de jornalismo científico e blogs de ciência).

Uma dessas oportunidades de disseminação do conhecimento é o Minha Tese em 180”. Em três minutos (180 segundos), o pesquisador apresenta anos de estudo do doutorado para um público aberto, da maneira mais simples possível e com o apoio de um único slide de PowerPoint. Entre os participantes, aquele que melhor se expressa é reconhecido com premiação.

Na última edição, quem venceu o concurso foi a doutoranda em Administração Manuela Rösing Agostini. Confira a entrevista a seguir e assista à apresentação de Manuela no Youtube:

Por que decidiu participar do Minha Tese em 180″?

Manuela: A ideia surgiu quando participei do concurso no Les Doctoriales – RS e fiquei em segundo lugar. Naquela oportunidade, já foi um grande aprendizado e uma chance de mostrar a minha tese para um número maior de pessoas. No final do ano de 2015, a Unisinos fez o seu concurso e imediatamente me inscrevi. Normalmente, num processo de doutoramento, as discussões da tese ficam entre o pesquisador, seu orientador e o grupo de pesquisa, o que é excelente, mas pode restringir novos olhares e percepções. Acredito que um dos principais pontos que me influenciou a participar do concurso foi essa oportunidade, de mostrar minha tese para um número maior de pessoas e ter a chance de discutir/dialogar com diferentes visões.

Como foi vencer a competição? O que mudou para você desde lá?

Manuela: O clima do concurso foi muito legal. Na manhã das apresentações, fui ensaiar no palco para ter uma real dimensão do que me esperava – confesso que estava ansiosa. Encontrei com alguns colegas e interagimos muito, ajudando uns aos outros nas apresentações. Esse momento foi muito marcante e demonstra exatamente o que é dividir espaços construtivos na ciência, são trocas e interações que nos levam a bons resultados. Tirar o primeiro lugar foi excelente, me possibilitou palestrar sobre o meu tema no Café com Pesquisa promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Administração, além de ter meu vídeo publicado pela Unisinos e visualizado por milhares de pessoas – nunca imaginei ser tão vista na internet. Outra excelente oportunidade que surgiu após o concurso foi o convite para falar no TEDxUnisinos, que ocorrerá em 21 de outubro de 2016, sendo que a repercussão tende a ser ainda maior. Ou seja, muitas portas se abriram e muitas ainda se abrirão!

Como você resumiu a sua tese em 180 segundos? Que critérios usou?

Manuela: Resumir um trabalho de quatro anos em três minutos foi um desafio bem grande. Procurei deixar a minha fala a mais simples possível, no sentido de não usar termos que seriam compreendidos por pessoas somente da minha área. Além disso, tentei fazer com que os espectadores imaginassem o contexto no qual pesquisei, tentando aproximá-los dos meus atores de pesquisa (comunidade indígena no sul do México). Assim, procurei mostrar os elementos mais contextuais, da história das pessoas e da sua comunidade. Ao final da apresentação é que relacionei com a teoria, apresentando meu objetivo de pesquisa e no que acredito.

Na sua opinião, esse formato sucinto de apresentação de pesquisa contribui para a popularização da ciência? Por quê?

Manuela: Com certeza, este formato que a Unisinos utilizou de ter uma apresentação ao vivo e a gravação para posterior divulgação foi excelente. Após o vídeo ser divulgado na internet, recebi muitos contatos de pessoas interessadas no meu tema de pesquisa e outras tantas que apenas “curtiram” o que eu disse. Acredito que um vídeo curto permite que as pessoas visualizem na íntegra o seu conteúdo e fiquem instigadas a interagir, formando opiniões diferentes sobre o tema das teses.

As inscrições para o Minha Tese em 180” estão abertas até 15 de agosto. Mais informações no site do evento.

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