Cientista social: o coringa do país

Capacidade de ver além do que os olhos percebem faz do profissional um verdadeiro conhecedor e transformador de realidades

Personificada naqueles que entoam seus hinos, a pátria amada dos brasileiros vai às ruas em busca do sol do novo mundo. Vozes em coro dominam os noticiários e as redes sociais, estão mudando o país. Em clima de metamorfose, outro assunto não há: de quase nada se fala, aqui, senão o futuro do gigante verde e amarelo. Suas novas trilhas ditam o comportamento do povo – se para bem ou para mal, não vem ao caso no momento – e transformam a realidade de todos e cada um.

Só que as coisas acontecem rápido e, para acompanhá-las, é preciso estar preparado. Compreender os fatos, traçar a perspectiva histórica e formalizar um panorama geral são atitudes demandadas pela situação. E quem sai na frente nesse processo de análise crítica? O profissional capacitado pela sociologia, conforme explica o professor de Ciências Sociais na Unisinos Aloisio Ruscheinsky: “A formação teórica e metodológica nessa área contribui para o entendimento dos fenômenos em curso, uma vez que combina o individual e o social, o particular e o geral, as aparências e a profundeza, a singularidade e a universalidade”.

Tanto o cientista social (aquele que cursou bacharelado ou licenciatura), quanto o sociólogo (o bacharel, propriamente dito) faz uso de ferramentas específicas, capazes de desvendar aspectos invisíveis ao observador comum. “A formação acadêmica dá conta de superar determinismos, pensamentos unilaterais e generalidades, bem como de assumir apressadamente um ponto de vista”, destaca o docente. Isso significa que, em situações como a que o Brasil enfrenta, é essa pessoa amparada por vasto repertório de conhecimentos quem realmente sabe do que está tratando.

“A formação acadêmica dá conta de superar determinismos, pensamentos unilaterais e generalidades, bem como de assumir apressadamente um ponto de vista.”

Aloisio Ruscheinsky, professor de Ciências Sociais

E quando o assunto é a situação do país, Ruscheinsky diz perceber no mínimo duas possíveis condutas profissionais em relação aos recentes acontecimentos: participação direta e construção de significados frente às possibilidades de mudanças sociais. Ou seja, a pessoa formada nessa área tem mais facilidade de reconhecer cenários e de se impor dentro deles, ainda que escolha isentar-se dos fatos – porque, na verdade, a imparcialidade é um mito: “De qualquer forma, toda interpretação representa posicionamento ou engajamento. A seleção do objeto de análise e do ângulo de observação já implica em uma alternativa, por certo relativa e, portanto, um pouco parcial”.

Além dos manifestos

Bom mesmo é saber que o cientista social não precisa esperar grandes mobilizações para pôr seus conhecimentos em prática. O coordenador da licenciatura na Unisinos, José Luiz Bica de Melo, lembra que, desde a criação dos primeiros cursos no Brasil – nos anos 1930, em São Paulo e no Rio de Janeiro; e 1950, na maioria das demais regiões metropolitanas – uma ampla gama de possibilidades de atuação tem surgido, mas não sem concorrência: “Até a década de 1990, não havia obrigatoriedade do ensino da sociologia nas escolas, e isso reduziu o campo de formação na área. As oportunidades estão sendo reabertas, mas é necessário disputá-las com outros candidatos”.

Em geral, o cientista é habilitado a trabalhar como professor de sociologia – tanto em instituições públicas, quanto particulares – ou como profissional liberal, para exercer a atividade junto a setores de administração e gestão, principalmente em relação a planejamento, pesquisa e avaliação de projetos. Outra alternativa é a atuação conjunta com especialistas das áreas de demografia, ambiente, saúde, cooperativismo e associativismo. Para o sociólogo, especificamente, há, ainda, uma escolha a mais: o campo político e sindical (oportunidade encontrada em partidos e Organizações Não-Governamentais, por exemplo).

Quem fica na academia tem a opção de seguir a diante com mestrado e doutorado, a fim de qualificar ainda mais seus conhecimentos. Desse modo, é capacitado a atuar de forma interdisciplinar, desenvolvendo projetos e programas educativos com outros docentes, principalmente das áreas de Geografia, Filosofia e História. “Esse é um campo importante, no qual trabalham tanto licenciados quanto bacharéis. O crescimento do Ensino Superior no Brasil – graduação e pós – tem possibilitado a inserção de maior número de profissionais altamente qualificados”, destaca Melo.

Competências profissionais

Já dizia o sociólogo e antropólogo francês Edgar Morin que produzir conhecimento compara-se a “fincar estacas em um pântano”. É justamente isso que o futuro profissional precisa ter em mente ao ingressar na área da sociologia. No percurso da carreira, ele será cobrado quanto a leituras constante e interesses diversos, inclusive por idiomas estrangeiros, como o já consolidado inglês. “E isso ‘complexifica’ os desafios”, complementa Melo.

A sociologia dialoga o tempo todo com a coletividade. Desde o começo, com a graduação, perpassa eixos de política, antropologia e pesquisa, integrando os diferentes setores da vida social. Independente da modalidade de ensino escolhida, uma coisa é certa: o aspirante a cientista deve “estar por dentro” das realidades que o cercam, buscando conhecer e explorar pormenores – detalhes que, afinal, fazem toda a diferença na hora de conseguir melhor colocação profissional.

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