Leonardo Sakamoto fala sobre manifestações de ódio na internet

Jornalista participou do evento Comunicação em Debate no Anfiteatro Padre Werner,

Crédito: Sofia Wolff

Uma Na noite da última quinta-feira (14), ocorreu no campus Unisinos São Leopoldo o evento Comunicação em Debate, com a presença do jornalista Leonardo Sakamoto. A palestra, homônima ao livro “O que aprendi sendo xingado na internet”, foi realizada no Anfiteatro Padre Werner e contou com cerca de 700 pessoas.

Jornalista, doutor em Ciência Política e professor da PUC-SP, Leonardo Sakamoto iniciou o encontro comentando sobre o ocorrido na exposição “Queermuseu”, no Santander Cultural. Para ele, o encerramento da mostra não foi uma questão de arte, mas de poder. “E principalmente uma questão de poder de quem não queria ver a exposição sendo mostrada, pois aquilo diz respeito à capacidade de você controlar um grupo de pessoas, e controlar o medo desse grupo”, comentou.

Em seguida, ele falou sobre os discursos de ódio que a internet reproduz. Segundo Sakamoto, isso acontece, pois, a rede social é um lugar “aconchegante”, assim como a ignorância, na opinião do palestrante. “A saída para isso não é o silêncio, mas o debate. É preciso debater em casa, nas escolas, nos bares, em todos os lugares”, completou.

Crédito: Sofia Wolff

Sakamoto comentou também sobre boatos que circulam na internet. Afirmou que o rumor vai mais longe que o desmentido. Para isso, usou como exemplo um caso próprio no qual um jornal de Minas Gerais publicou uma matéria que o atribuía a afirmação de que os “aposentados são inúteis”. A frase não havia sido proferida por ele e também não havia ocorrido a entrevista, mas foi suficiente para que recebesse inúmeros xingamentos, que não ficaram apenas na internet. Para ele, nesses casos, a responsabilidade é do acusado, e não do acusador. O ônus da prova é sempre do acusado.  “A resposta não importa, o que importa é que foi contra o Sakamoto”, explicou.

Sakamoto conversou sobre o que aprendeu sendo xingado na internet. Descobriu com os xingamentos que a parte invisível da rede é um relevante formador de opinião no Brasil. Normalmente, as informações falsas são compartilhadas porque as pessoas querem acreditar naquilo. “As pessoas, ao concordarem com uma notícia, tendem a acreditar nela, sem nem ao menos pesquisar antes”.

Ele ainda citou que um dos problemas das redes sociais são os algoritmos, que tendem a transformar tudo em um “local quentinho”, mostrando apenas postagens com conteúdo do qual a pessoa concorda. “Os algoritmos criaram uma bolha, as opiniões de um grupo validam determinado pensamento, mesmo que ele esteja equivocado”, alertou.

Crédito: Sofia Wolff

O cientista político constatou que as pessoas têm a tendência a se calarem diante do preconceito como, por exemplo, em uma postagem no Facebook. Para ele, se as pessoas, ao invés do silêncio, optassem por discordar do post preconceituoso, muitas dessas pessoas se sentiriam menos à vontade para seguir compartilhando esse tipo de pensamento retrógrado.

Se o debate público fosse mais qualificado, as pessoas se sentiriam mais motivadas a se informar melhor. Muitos usuários de redes sociais, compartilham informações apenas para ganhar curtidas, sem se importar se o conteúdo compartilhado é verdade ou não. Para mudar isso, “a escola tem papel central para o futuro dos debates nas redes sociais”, comentou.

Sakamoto se mostrou preocupado que a população brasileira não foi educada para diferenças, mas sim, para uma pasteurização. Dessa forma, o que é diferente, costuma ser rejeitado. Ele afirmou que “No Brasil, não fomos educados para o debate público. Nós não sabemos debater, não sabemos chegar a um consenso”. Continuou dizendo que se chegou a um ponto de falar que os direitos humanos querem calar o direito à liberdade de expressão.

No encerramento da palestra, Sakamoto agradeceu a todos os presentes e à organização pelo evento. Disse que debater esse assunto tem uma importância fundamental. Finalizou falando que ele não é descrente em uma mudança, e tem muita fé na potência das gerações atuais. “Eu acho que é possível mudar e fazer a revolução que a gente precisa, completou.

O nosso website usa cookies para ajudar a melhorar a sua experiência de utilização.

Aceitar