É quase impossível imaginar que animais tenham características e atitudes parecidas com a de um ser humano. Qual seria a reação das pessoas se falássemos que um pequeno animal, invertebrado, pode ter um comportamento peculiar, mas semelhante ao de um homem para copular?
Na última quarta-feira, 29 de julho, o Programa de Pós-graduação de Biologia trouxe a doutora uruguaia Maria Jose Albo para apresentar o trabalho “Las Arañas Neotropicales: carismáticos modelos de estudio de selección sexual”.
A palestra foi realizada na Unisinos e destinada a estudantes do curso de Biologia da graduação e pós-graduação. O mediador foi o professor Luiz Ernesto Costa Schmidt, que também é uma das referências no assunto, junto com a Dra. Maria.
O trabalho sobre as aranhas neotropicais e sua relação de gêneros sexuais entra no estudo da ecologia comportamental, que busca entender os organismos e a relação deles com o ambiente, fatores ecológicos, bióticos e abióticos, interferindo nas táticas reprodutivas que os animais têm. No caso das aranhas, foi descoberta uma tática em alguns grupos de machos que oferecem as fêmeas algumas substâncias para induzir elas a aceitarem eles.
Os machos oferecem presentes nupciais para as fêmeas esperando garantir a reprodução . Esses presentes podem ser nutritivos ou simbólicos. O nutritivo é quando é capturado uma presa, empacotada em seda e entregue para a fêmea. O simbólico é quando o macho não coloca nada nesse “pacote”, ou quando há somente alguma substância para servir como molde, como pequenas sementes de plantas.
Para o professor Luiz Ernesto, o segredo é entender como essa troca funciona. “Se a gente for pensar, o macho tem um dilema no momento que ele pega uma presa. Ele deve decidir se vai comer para se manter, ou se ele vai procriar, entregando esse presente nupcial para a aranha”, comenta.
O assunto é realmente carismático, como a uruguaia define no título de sua palestra. Ela se envolveu tanto na pesquisa que acompanha aranhas neotropicais e seus sistemas no sul do Brasil, no Uruguai, e também com uma outra espécie que se encontra na Dinamarca.
“Quando comecei a cursar Biologia queria estudar o comportamento animal. E, na realidade, queria trabalhar com aves, porém no Uruguai, não existe muita pesquisa sobre isso. Então eu conheci o laboratório de aranhas. Me encantou pensar que animais tão pequenos pudessem ter um comportamento parecido com o nosso”, explica.
As diferentes opiniões sobre estratégia evolutiva estável
Apesar de compartilharem da mesma teoria sobre os presentes nupciais, algumas visões do professor Schmidt e da Dra. Maria divergem. Isso ficou claro no debate que sucedeu a palestra da uruguaia. O termo estratégia evolutiva estável tem um significado diferente para os dois.
“Existem algumas estratégias que são consideradas como evolutivas estáveis. O que significa isso: que uma vez que ela se estabelece numa cultura, nada é melhor do que ela. Por exemplo: se eu te coloco numa estrada vazia que tem uma faixa no meio dela definindo duas pistas, tu vai dirigir na pista da direita e não na contramão, por que fomos ensinados assim. A estratégia evolutiva estável nesse caso é tu dirigir na mão que a maioria da população faz”, explica Luiz Ernesto.
A divergência ocorre quando estudado o presente nupcial simbólico. O professor explica que em alguns trabalhos da Dra. ela colocou explicitamente que o macho oferecendo um presente nupcial simbólico é uma estratégia evolutiva estável. O que ele discorda, pois essa ocorrência não é tão frequente, para dizer que grande parte da população faz isso. Agora, o macho oferecendo um presente é uma estratégia evolutiva estável, já que a grande maioria da população faz isso.
Uma dissertação de mestrado sobre aranhas
Para a aluna Claudia Sabrina Spindler, esse pequeno animal invertebrado também chamou atenção. Com a tese “Padrão espacial e temporal no investimento reprodutivo em aranhas doadoras de presentes nupciais do gênero paratrechalea carico, 2005 (araneae, trechaleidae)”, Claudia falará sobre as escolhas do macho durante a sua vida, em entregar o presente nupcial ou não.
“É muito gratificante poder assistir a palestra da Dra. Maria, ela é uma profissional referência junto com o professor Ernesto na área da ecologia comportamental, principalmente relacionado a troca de presentes nupciais por aranhas. Isso me deixa nervosa, mas muito feliz. Nervosa por estar falando para pessoas que dominam muito o assunto, mas pelo outro lado, ela vai poder me sugerir coisas e apontar falhas que vão ser reparadas, contribuir com minha tese”, comenta.
Claudia tem a vida planejada até sua dissertação. Apesar de nada concreto, ela enxerga muitas possibilidades num futuro próximo.”Eu tive a oportunidade de conversar antes com a Dra. Maria e ela já me sugeriu alguns cursos que vão acontecer no Uruguai para participar como intercâmbio. Como sou professora do ensino fundamental, tenho umas ideias de projetos para realizar com meus alunos. Desenvolver um projeto de livro didático contendo estruturas e comportamentos de aranhas. Apesar do futuro incerto, começo a ter uma frestinha na porta com ideias a serem desenvolvidas”, planeja.
Texto e fotos: Carolina Schaefer